Para início de conversa, vamos lembrar que o termo “retinoides” é usado de forma genérica para identificação da vitamina A e seus derivados, como o retinol, o retinaldeído ou ainda, o ácido retinoico e seus ésteres. Os retinoides são derivados naturais dos betacarotenos, que é a própria vitamina A e seus metabólitos diretos. Esta vitamina é amplamente encontrada na nossa alimentação (ou deveria ser…). Pretendemos com este texto explicar um pouco sobre a ação desta vitamina e de seus derivados na cosmetologia.
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Atividades e Benefícios
Os benefícios da vitamina A vão além da dermatologia: trata-se de uma vitamina essencial para o crescimento e manutenção de ossos, glândulas, dentes, unhas e cabelos. Se relaciona, ainda, ao combate à cegueira noturna, promove o aumento da resistência imunológica às infecções respiratórias, é importante na manutenção das camadas externas de tecidos e órgãos e auxilia no tratamento do enfisema e do hipertireoidismo.
Queridinho dos dermatologistas e dos apreciadores de produtos cosméticos, o ácido retinoico é, de longe, a forma de vitamina A mais conhecida neste mercado. Indicado como um aliado no cuidado da pele madura, sua aplicação tópica tem, a seu favor, a melhora clínica da pele envelhecida através da redução de rugas finas, aumento da suavidade e diminuição da hiperpigmentação da área aplicada. Estes benefícios, que já foram demonstrados através de estudos científicos, seguem sem a completa elucidação de seus mecanismos de ação. Em contrapartida, seu uso em excesso e em concentrações altas pode promover a irritação da pele, deixando-a frágil e vermelha.
Foco na ação anti-aging
O envelhecimento da pele é marcado por mudanças morfológicas e estruturais da cútis, como afinamento da epiderme e da derme, redução do número de queratinócitos e também na rede de sustentação do tecido (estroma). Os retinoides alteram a expressão gênica das células ao se ligar e ativar um conjunto ou um receptor específico. A partir da interação retinoide-receptor, iniciam-se suas ações, como a indução da proliferação e diferenciação de diversos tipos de células. Uma de suas importantes ações na cosmetologia se encontra neste ponto: no estímulo à hiperproliferação da epiderme. Ao estimular a proliferação e diferenciação dos queratinócitos da camada basal, promovendo a descamação do epitélio, os retinoides promovem a renovação celular, o que auxilia no tratamento de manchas decorrentes da exposição ao sol.
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A pele humana tem a capacidade de converter o retinol (outra forma de vitamina A!) em ácido retinoico, o que significa dizer que a nossa pele consegue transformar o retinol em seu metabólito ativo, que é o ácido retinoico. Pouco se sabe sobre os efeitos anti-aging da aplicação direta do retinol, mas diversos pesquisadores tentam comprovar que seu uso pode promover efeitos similares aos do ácido retinoico, sem causar a irritação característica relacionada a este último. Um estudo recente realizado pelo Departamento de Dermatologia da Universidade de Michigan, nos EUA, conseguiu comprovar os benefícios da aplicação tópica de retinol na concentração de 0,4%: em apenas uma semana de uso, os cientistas conseguiram observar sua eficácia antienvelhecimento e segurança de uso. Ocorreu aumento da homeostasia da epiderme e da derme pelo estímulo à proliferação de queratinócitos e células endoteliais no tecido, o que comprova sua ação de renovação celular, além de aumento da atividade de fibroblastos.
É bem conhecido o fato de retinoides tópicos provocarem eritema (vermelhidão), afinamento da pele e fragilidade do tecido. O estudo descrito acima conseguiu mostrar mais uma característica promissora da aplicação direta de retinol sobre a pele: a diminuição de efeitos adversos em comparação com a aplicação de ácido retinoico.
Vitamina A e o Tratamento da Acne
Os medicamentos que possuem como ativo retinoides tópicos são também muito utilizados no tratamento da acne, pela inibição da secreção sebácea, impedimento da formação de novas lesões, melhora da textura da pele e tratamento das cicatrizes devido ao estímulo à descamação e à renovação celular. São exemplos o adapaleno, o ácido retinoico e a tretinoína.
Em casos mais graves, pode-se recorrer ao uso da isotretinoína, um retinoide sistêmico. Ao reduzir de forma generalizada a produção de sebo, este medicamento é altamente eficaz na remissão do quadro. Tem como reações adversas o eritema, a descamação além da área afetada e queimação da pele, bem como o risco de má formação de bebês (por isto é de uso proibido por grávidas e mulheres que pretendem engravidar durante seu uso!).
Legislação
A ANVISA regulamenta a utilização de retinoides em produtos cosméticos por meio do Parecer Técnico n° 4, de 21 de dezembro de 2010 e suas atualizações. Aos formuladores, vale a pena verificar as concentrações permitidas, testes requisitados, aplicações e dizeres de rotulagem obrigatórios antes de se iniciar o trabalho.
Em resumo, produtos que contenham retinol, retinaldeído e ésteres do ácido retinoico são aprovados para uso cosmético até certos limites; ao passo que o ácido retinóico, adapaleno e derivados da tretinoína são sempre medicamentos, o que significa dizer que devem ser prescritos por médicos para a venda na farmácia.