Nos dias 14 e 15 de setembro de 2016 acontecerá o Sustainable Cosmetics Summit Latin America 2016 em São Paulo. Como de costume, o evento abordará temas pertinentes à sustentabilidade em toda a cadeia produtiva da indústria cosmética. Nesse ano, uma das apresentações da discussão será a apresentação do estado da arte das alternativas aos testes em animais, ministrada pelo Gerente de Campanha no Departamento de Pesquisa e Toxicologia da Humane Society International.
O assunto é de interesse da maioria dos profissionais do setor, uma vez que vem ficando cada dia mais complicado realizar testes em animais, seja por políticas internas, políticas externas ou pressão social. A verdade é que os métodos alternativos aos testes em animais deixou de ser diferencial para se tornar exigência mínima para os produtos cosméticos. Com isso, as previsões para o mercado de métodos alternativos é bastante otimista. A expectativa é que o valor mundial do mercado de testes in vitro cresça de US$ 14,15 bilhões em 2016 para US$ 27,36 bilhões em 2021. Um crescimento expressivo de cerca de 14% ao ano.
Foto: Humane Society International.
O que antes era uma tendência e amedrontava pesquisadores e profissionais em todo o mundo, vem tomando corpo e desafiando diversos setores da indústria da beleza a repensarem suas práticas e noções de segurança. O Cosmética em Foco conseguiu uma entrevista exclusiva com o Helder com uma prévia do que será apresentado durante o Summit. Ele que já representou organizações de proteção dos animais na Europa durante a elaboração da Diretiva 2010/63/EU sobre testes em animais.
Cosmética em Foco: Como está mundialmente o uso de métodos alternativos aos testes em animais para cosméticos?
Helder Constantino: No mundo inteiro, existem cada vez mais incentivos ao uso de métodos alternativos para testar produtos e ingredientes cosméticos – bem como outras categorias de produtos. Primeiramente, há incentivos mercadológicos: pesquisas de opinião mostram que os consumidores querem produtos mais éticos, e varias empresas adaptam suas politicas de pesquisa e desenvolvimento para responder à demanda crescente para cosméticos “Cruelty-Free” ou livres de crueldade. Existem também incentivos regulatórios e legais. Por exemplo, a União Europeia e a Índia proibiram testes de cosméticos em animais. Há também importantes incentivos científicos. Métodos de testes in-vitro reconhecidos internacionalmente pela OCDE são mais seguros e confiáveis do que o modelo animal. As agências regulatórias e as empresas estão cada vez mais cientes das limitações do modelo animal para prever efeitos adversos em humanos.
CFOCO: O Brasil já está em dia com essas tecnologias?
HC: No Brasil também existem incentivos para ampliar o uso de métodos alternativos. A Resolução Normativa 18 do 24 de Setembro de 2014 do Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (CONCEA), vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, tornou 17 métodos alternativos reconhecidos pela OCDE obrigatórios no país a partir de 2019. Uma Rede Nacional de Métodos Alternativos (RENAMA) foi criada em 2012 pelo MCTI para disponibilizar métodos in-vitro no Brasil. Atualmente, 26 laboratórios fazem parte da RENAMA e a importância dos métodos alternativos é reconhecida na Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação 2016 – 2019 do MCTI.
CFOCO: Como está o desenvolvimento de métodos alternativos no Brasil?
HC: O conceito de validação de métodos alternativos ainda é relativamente recente e foi desenvolvido na Europa. O primeiro centro de validação de métodos alternativos, o ECVAM (European Centre for the Validation of Alternative Methods) foi criado em 1991 pela Comissão Europeia. De ora em diante, o interesse científico para métodos alternativos cresceu e outros centros de validação foram instituídos: ICCVAM em 2000 nos Estado Unidos e JACVAM no Japão em 2005. No Brasil, o BraCVAM foi criado em 2012, o primeiro da América Latina.
O BraCVAM ainda não validou novos métodos, mas há uma clara intenção de ancorar o Brasil neste movimento científico mundial. Além disso, empresas estão investindo em métodos in-vitro. O Boticário anunciou, por exemplo, parcerias com a RENAMA para desenvolver modelos de pele artificial, e órgãos humanos num chip. Acredito que o reforço das instituições cientificas (RENAMA e BraCVAM), junto com investimentos privados e a pressão da opinião publica a favor de métodos alternativos, irão dar frutos.
CFOCO: Que outros projetos a Humane Society tem no Brasil?
HC: A Humane Society International (HSI) é a maior organização de proteção dos animais no mundo, presente em vários países. No Brasil, a HSI trabalha com três programas: a eliminação de práticas de confinamento intensivo de animais de produção, a campanha Segunda Sem Carne e a eliminação do uso de animais em testes de pesquisa e toxicologia. Acreditamos que é possível sair do modelo animal e ao mesmo tempo melhorar a ciência e a saúde pública. Apoiamos a emergência de um novo paradigma na pesquisa científica, baseado em métodos in-vitro e computacionais mais preditivos do que os testes em animais.
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