Aprendendo sobre perfumes em Paris

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Vamos começar com um exercício? Pense sobre Paris por meio minuto. Quais foram as primeiras coisas nas quais você pensou? Acredito que dentre as respostas estejam croissants, Torre Eiffel.. e perfumes!!!! Certo?

Recentemente o Cosmética em Foco contou um pouco sobre a história da perfumaria moderna e ninguém estaria errado em relacionar perfumes à França! Vários dos perfumes mais vendidos são franceses. E isso não é por acaso.

A França e os perfumes

Em 1533, a nobre Catarina de Médici se mudou para a França para se casar com o rei Henrique de Valois e um dos presentes na caravana que a acompanhou nesta viagem era seu perfumista, René Blanc. Relatos apontam que foi ele quem apresentou a perfumaria à França, fundando em Paris a primeira boutique de perfumes e consequentemente impulsionando a produção e comercialização destes produtos.

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Exemplos de materiais utilizados em perfumaria.
Foto: divulgação.

 

Se ainda hoje estes produtos fazem tanto sucesso, naquela época eles acabavam por ser bastante propícios, tanto para dissimular a falta de higiene quanto os maus cheiros tão generalizados na época. Obviamente as cortes dos reis, especialmente as de Luiz XIV e Luiz XV, se convertem em grandes consumidoras de essências.

Ao que parece, também Napoleão era um grande entusiasta dos perfumes. Reza a lenda que ele vaporizava perfumes em sua boca ou em torrões de açúcar para manter o hálito fresco e também levava a água de colônia em pequenos frascos dentro de suas botas. Com a ascensão de Napoleão ao trono da França começou uma nova era para os perfumes. Os perfumistas ganharam prestigio e reconhecimento, o que os possibilitou montar seus próprios laboratórios. Este era o começo do que viria a ser a indústria da perfumaria!

Obviamente o emergente mercado da perfumaria ficou paralisado durante a Revolução Francesa mas, ao seu fim, a burguesia dava sinais de que perfume combinava com prosperidade. E era para onde o mundo então estava caminhando.

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Estabelecido o Capitalismo na Europa, em especial na França surgiram algumas empresas (hoje renomadas e tradicionais) que ganharam atenção mundial na produção de perfumes finos, especialmente nas cidades de Paris e Grasse. Desta forma, a produção de perfumes deixa de ser artesanal e alcança escalas maiores. O desenvolvimento da química em muito contribuiu para que os processos fossem modernizados, bem como a utilização de outras matérias primas, a síntese de moléculas isoladas, etc.

E é assim que Paris se vê no século XX: como a capital da moda e da perfumaria, ambas se tornaram aliadas e intrínsecas uma à outra. A cidade era repleta de estabelecimentos que contribuíam para tal estereótipo: cabeleireiros, loja de luvas perfumadas, butiques, etc. Exatamente como ainda a enxergamos hoje, não é mesmo?!

Assim sendo, nada mais justo que conhecer um pouco sobre a perfumaria em Paris!!!

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Atualmente a cidade conta com dois museus relacionados a perfumaria:

Musée du Parfum (Fragonard)

Mais tradicional, voltado para a fabricação de perfumes e sua história desde a Antiguidade até os dias de hoje.

https://musee-parfum-paris.fragonard.com/le-musee/

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Le Grand Musée du Parfum

Mais recente, voltado à sensibilização do público quanto aos estímulos olfativos e o conhecimento sobre o universo dos perfumes.

http://www.grandmuseeduparfum.fr/le-musee/

Minha visita ao Musée du Parfum

Como o Cosmética em Foco já havia convidado seus leitores para uma visita ao Musée du Parfum, eu hoje divido com vocês um pouco do que foi a minha experiência neste museu.

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O lugar onde hoje é o museu já é curioso por si só. No século XIX  ele foi um teatro (Eden Théâtre), depois ele se transformou no lugar onde os parisienses aprendiam a andar de bicicleta (meio de transporte muito comum na época), por muitos (118) anos foi uma loja de móveis. O espaço foi cedido em 2014 à Maison Fragonard que o transformou no que hoje é o museu do perfume.

A visita começa abordando matérias primas responsáveis por conferir odor aos perfumes, tais como flores, frutas, materiais animais e minerais. Além disso, é possível observar materiais de laboratório utilizados no processo da fabricação de perfumes.

Exemplo de extração de óleo essencial de flores mais sensíveis em gordura vegetal ou animal -processo denominado “enfleurage”. Atualmente em desuso.
Foto: divulgação.

Conhecidas as matérias-primas, a visita apresenta os processos pelos quais óleos essenciais são obtidos: o cultivo, a colheita, a seleção, a obtenção e o armazenamento. É possível compreender como tudo isso era feito no início e como os processos estão modernos e mecanizados atualmente.

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Uma vez conhecido o processo de produção, é hora de entender como surge um perfume. E é uma verdadeira obra de arte. Talvez o perfumista seja uma mistura de mágico, químico e artista. Não há dúvidas de que é necessário verdadeiro talento e muito conhecimento para conseguir unir várias famílias olfativas de forma harmônica e agradável para se obter um perfume de sucesso.

Exemplificação de famílias olfativas e sua divisão em notas de topo (cabeça), corpo (coração) e fundo (base).
Foto: divulgação.

A visita então passa por uma coleção bastante grande de objetos de arte relacionados a perfumaria, desde peças raras da Antiguidade até peças do século XX. Tudo é organizado de acordo com a ordem histórica cronológica, sendo possível encontrar referências de perfumes em estado líquido, sólido e em vapor.

Neste ponto da visita é possível observar que as embalagens, assim como os perfumes,  também sempre foram verdadeiras obras de arte. Inicialmente elas eram bem pequenas, porque era hábito comercializar perfumes não diluídos. Uma vez que os perfumes foram se tornando mais populares e acessíveis, com o advento da eau de toilette e eau du parfum, os frascos tornaram-se maiores uma vez que as fragrâncias encontram-se mais diluídas.

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Embora as embalagens sejam incríveis, podemos observar que elas não possuem etiqueta. Esta só surgiu ao final do século XIX com a industrialização. A sessão seguinte da visita expõe os mais variados exemplos de etiquetas, retratando tendências artísticas do começo do século XX.

A sala de etiquetas e seus muitos exemplos.
Foto: divulgação.

Depois de conhecer todo este universo, o visitante pode testar seu olfato em uma atividade simples e lúdica. Será que você conseguiria relacionar o odor percebido a qual das opções abaixo ele corresponde?

A sala de experimentação olfativa.
Foto: divulgação.

As visitas são sempre guiadas e gratuitas. As pessoas interessadas são divididas em grupos de acordo com a língua escolhida, podendo-se escolher entre francês ou inglês. A visita é dinâmica, curiosa e divertida. E o mais importante: para todos os públicos!!! Não é necessário nenhum conhecimento prévio e, se você tem conhecimento técnico na área, a teoria vai ser muito bem ilustrada diante dos seus olhos.  A visita termina na loja da Maison Fragonard, que disponibiliza ao visitante uma infinidade de produtos cosméticos. Adquiri-los é uma escolha do visitante, não há qualquer obrigatoriedade.

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Por fim, já na loja, alguns dos perfumes mais famosos da marca são apresentados aos visitantes, que tentam adivinhar quais famílias olfativas podem ser encontradas ali.

Ao final da visita, a loja da Fragonard.
Foto: divulgação.

Uma vez que já despertaram o interesse do visitante, o desafio é sair de lá sem levar algum produto para casa. Caso você se interesse por algum produto, não perca a chance. Sendo uma empresa francesa familiar e bastante tradicional (fundada em 1926), os produtos da marca não são largamente comercializados.

Para adquirir produtos ou não, a visita é válida caso você tenha algum tempo livre em Paris!

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Referências:
Visita realizada no Musée du Parfum
DE BARROS, A. L. N. (2007). Análise de Perfumes. São Paulo, Faculdade de Farmácia, Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas, São Paulo.

Por Gisely Spósito

Redatora. Farmacêutica-Bioquímica, Mestre em Ciências Farmacêuticas e Doutora em Ciências Farmacêuticas, especificamente em Medicamentos e Cosméticos pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP-USP). Tem experiência em Tecnologia de Cosméticos, do desenvolvimento à análise sensorial.