Colorimetria e coloração dos cabelos

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Desde os tempos antigos as pessoas usam artifícios químicos para mudar a cor de seus cabelos como uma maneira de diferenciar seu status social. Por exemplo, no Egito antigo já se utilizava Hena para deixar os cabelos ruivos e transmitir uma ideia de poder. Na Grécia, o cabelo era descolorido com uma solução de potássio e tratado com um unguento obtido através de pétalas amarelas e pólen. Atualmente, com o desenvolvimento de novas tecnologias e o melhor conhecimento sobre produtos químicos, existe uma vasta gama de cosméticos que tem como objetivo a mudança da cor das madeixas. Porém, quais os tipos de coloração que existem e quais os seus princípios?

Figura 1. Colorir os cabelos requer arte e ciência
Foto: Marcelo Moura / FreePik

As modalidades de tinturas capilares podem ser divididas em duas grandes categorias, as não-oxidativas e as oxidativas. Também podem ser classificas de acordo com a durabilidade em que o produto persiste na fibra após sua aplicação, como temporárias, semipermanentes e permanentes. Os diferentes produtos contam com corantes capilares próprios para cada tipo de coloração a ser formulada.

Basicamente, as colorações temporárias e semipermanentes seguem o preceito de coloração por deposição, ou seja, os corantes são depositados nas fibras capilares sem reagir com nenhum outro componente químico.

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As tinturas temporárias são não-oxidativas e não possuem alto poder de penetração nas cutículas do cabelo. Geralmente, os corantes temporários possuem alto peso molecular, apresentam características ácidas e possuem cargas aniônicas (Figura 2), suas vantagens são a alta solubilidade em meio aquoso e a penetração mínima na fibra capilar. Estes produtos geralmente saem na primeira lavagem após a aplicação da tintura.

 

Figura 2. Exemplo de algumas moléculas utilizadas como corantes temporários
Foto: divulgação

Os corantes semipermanentes também não são revelados por processos oxidativos em sua aplicação, em contrapartida, tais corantes possuem afinidade pela queratina capilar, por isso persistem um pouco mais na fibra, durando de 3 a 6 lavagens após a aplicação da coloração. Possuem características alcalinas, cargas catiônicas e baixo peso molecular. Além disso, como os produtos contendo esse tipo de corante tendem a ter um pH mais elevado, a abertura das cutículas também favorece uma melhor deposição dos corantes semipermanentes.

Já os corantes permanentes promovem uma reação de oxidação irreversível e permanecem na fibra capilar até que ela seja cortada. Sua tonalidade pode ser reduzida após excessivas lavagens, mas a remoção completa é difícil. Além de ser preciso repetir o procedimento à medida que o cabelo cresce.

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Porém, todos esses conceitos nos conduzem à seguinte pergunta: como chegar nas cores certas para formular minhas tinturas? Para isso, existe o conceito de Colorimetria aplicado em vários segmentos industriais e artísticos, que será brevemente abordado abaixo.

O círculo cromático (Figura 3) é uma paleta de cores contendo as três cores primárias, as três cores secundárias e as seis cores terciárias, este instrumento também elucida a diferenciação de tons dessas cores, com nuances mais claras e mais escuras.

Figura 3. Representação gráfica do círculo cromático
Foto: divulgação.

Dentro do círculo cromático existem alguns conceitos que podem ser aplicados quando estamos formulando uma coloração para cabelos, por exemplo, para a matização dos cabelos aplica-se o conceito das cores complementares (Figura 4), quando utilizamos a cor oposta dos fios no círculo cromático para a neutralização de uma cor indesejável (exemplo: remoção do tom amarelado de cabelos loiros com produtos de coloração violeta).

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Figura 4. Esquema representativo de harmonização das cores
Foto: divulgação.

 

As cores análogas (Figura 4) estão próximas no círculo cromático e geralmente compreendem um limite de três variações de uma cor. Em coloração capilar este tipo de harmonização pode ser utilizado tanto para intensificar a matização descrita anteriormente, quanto para máscaras tonalizantes, como uma forma de intensificar o tom de interesse e/ou o reflexo que este fio terá após a aplicação do produto. Seguindo este mesmo conceito, podemos também sugerir o modelo de harmonização monocromática que consiste na mistura de diferentes nuances da mesma cor.

Por fim, as harmonizações triádicas (Figura 4), são indicadas para a obtenção de tons neutros como o cinza e o marrom, consiste na mistura de três cores igualmente espaçadas a 120° uma da outra, no círculo cromático.

Embora o universo de colorações capilares seja muito interessante, tratam-se de produtos nos quais o controle de qualidade é extremamente rigoroso e, muitas vezes, chegar em uma coloração pode envolver vários testes com alterações mínimas nas concentrações de corantes. Também é de extrema importância que durante a fase de desenvolvimento o produto seja aplicado em mechas padronizadas para que os formuladores possam avaliar melhor os resultados!

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Referências:
BOLDUC, C.; SHAPIRO, J. Hair Care Products: Waving, Straightening, Conditioning, and Coloring. Clinics in Dermatology, 2001:19, p.431-436.
FRANÇA, S. A.; DARIO, M. F.; ESTEVES, V. B.; BABY, A. R.; VELASCO, M. V. R. Types of Hair Dye and Their Mechanisms of Action, Cosmetics 2015:2, p.110-126.
Teoria das Cores

Por Vinicius Vilela

Redator Farmacêutico Generalista pela Universidade São Judas Tadeu. Cursando MBA em Tecnologia Cosmética.