Há tempos que se ouve falar sobre reciclagem e diminuição do impacto de nossas ações no meio ambiente, mas como profissionais e consumidores podem pensar o descarte de embalagens de cosméticos? Mesmo os refis são acondicionados em material plástico, por exemplo, o consumidor preenche um frasco com o conteúdo do refil, mas descarta a embalagem do refil no meio ambiente. Essa atitude é de fato benéfica ao meio ambiente? Será que não existe um meio de dar um destino melhor às embalagens de cosméticos?
No dia 15 de setembro de 2016, durante o Sustainable Cosmetics Summit Latin America, teremos a palestra da Mônica Pirrongelli da TerraCycle Brasil sobre o empoderamento dos consumidores para redução do desperdício.
Presente desde a primeira edição do evento, o Cosmética em Foco vem destacando nos últimos anos a necessidade de realmente pensarmos a sustentabilidade como um conceito complexo, composto de diversas ações embasadas.
Conversei com a a Mônica Pirrongelli, Gerente de Comunicação e Desenvolvimento de Negócios da TerraCycle Brasil sobre o tema de sua palestra. Ela acredita que devemos pensar o descarte de embalagens sob uma ótica coletiva, “tanto na acepção de envolver todos, como também na perspectiva de construção de uma consciência ambiental coletiva”.
Ela lembra que na Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12305/10) consta que a responsabilidade das práticas de logística reversa é de todos os envolvidos na cadeia, como fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes, cidadãos e todos os envolvidos nos serviços de manejo dos resíduos sólidos urbanos na logística reversa dos resíduos e embalagens pós-consumo. A Mônica, por exemplo, diz que a responsabilidade é compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos. Para ela, “o principal desafio para o descarte é pensar em todo o tema ambiental de maneira holística, colocando em prática um conjunto de ações desde a expansão dos programas de coleta seletiva no Brasil até o fomento à educação ambiental”. Nesse contexto, pensar de forma sustentável envolve não comprar além do que realmente será usado, não acumular produtos em casa que terão prazo de validade expirado e serão descartados no meio ambiente. Comprar um produto e usar até o fim é uma atitude sustentável.
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É interessante pensarmos que a reciclagem sozinha não é suficiente. “É necessário que haja investimento em ecodesign de embalagens para torna-las menos complexas e mais viáveis. As marcas devem estimular o engajamento de seus consumidores para conscientizá-los sobre o impacto de suas escolhas”, acrescenta Mônica. Não podemos deixar de lembrar que também há necessidade de mais incentivo fiscal do poder público para quem produz com material reciclado.
A TerraCycle atua no Brasil desde 2009 e já coletou aproximadamente 30 milhões de itens que foram reciclados por quase 1 milhão de consumidores. Mônica destaca que “já foram doados 430 mil Reais a escolas e instituições de caridade, fruto unicamente do engajamento de seus participantes com as coletas”. Entre os programas atuais no Brasil, tem o Programa Nacional de Reciclagem Saúde Bucal Colgate, que recicla escovas de dente, tubos de creme dental e suas respectivas embalagens de qualquer marca e programas com outras marcas como Avon, Garnier e L’Occitane.
Por fim, eu pergunto à Mônica se a logística reversa de embalagens e seu reprocessamento na própria indústria cosmética é algo viável. O que ela acha se uma empresa recuperar seus próprios frascos de shampoo, por exemplo, reprocessá-los e utilizá-los para se tornarem novos frascos de shampoo?
Veja a resposta: “sim, é algo bastante viável, o desafio na verdade está na coleta. No Brasil, apenas 1055 municípios contam com programas de coleta seletiva (menos de 20% dos municípios). Isso impacta negativamente na medida em que misturar resíduos orgânicos com recicláveis, como é o caso da embalagem de shampoo (PEAD – polietileno de alta densidade), compromete o potencial de reaproveitamento desse material. E aí você tem dois problemas: volume, porque o percentual de reaproveitamento é afetado, e qualidade do resíduo, porque, claro, se você não tem investimento em coleta seletiva e profissionalização das cooperativas, os resíduos de alta qualidade ficam escassos. Outro ponto é a falta de incentivo fiscal. Faltam instrumentos normativos nesse sentido para impulsionar a utilização de embalagens de material reciclado”.
Trocando em miúdos, é possível sim, desde que haja interesse das empresas e incentivo do governo para estimular essas práticas sustentáveis. Cobrar descarte adequado de resíduos não é mais suficiente, os órgãos ambientais devem cobrar práticas de reuso e menos retrabalho nos processos industriais. A legislação brasileira de cosméticos deve ser repensada para o futuro. Permitir fracionamento, venda cosméticos em granel, enfim olhar para frente e deixar de nivelar por baixo.