Popularmente conhecida como calvície, a queda de cabelo é estudada pelos profissionais da saúde pelo nome de alopecia. O mais comum dos tipos de alopecia, a alopecia areata é uma desordem autoimune do folículo capilar que causa perda capilar recorrente, não cicatricial em áreas com formação de pelos. Recentemente alguns estudos apontam para relação entre a deficiência de vitamina D e a alopecia areata, como já foi investigado para outras doenças autoimunes. Será que a deficiência de vitamina D aumenta a queda de cabelo?
O que é alopecia?
Os cabelos crescem e caem continuamente de acordo com o ciclo de crescimento natural. Todo esse ciclo acontece no folículo piloso, onde está o bulbo capilar (a famosa raiz dos cabelos). Enquanto você lê esse artigo, de 85 a 90% dos fios de cabelo da sua cabeça estão em fase de crescimento enquanto 10% estão na fase de queda. Isso é perfeitamente normal. No entanto, alguns fatores podem desequilibrar o ciclo de crescimento natural dos cabelos.
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A queda de cabelo é cientificamente conhecida como alopecia, mas popularmente chamada de calvície. Algumas razões possíveis para a alopecia são:
- Diminuição funcional das células da matriz capilar;
- Diminuição do fluxo sanguíneo (consequentemente levando menos nutrientes para os folículos);
- Aumento das sensibilidades aos hormônios androgênios;
- Ativação do funcionamento das glândulas sebáceas, deteriorando o ambiente do couro cabeludo e folículo piloso;
- Desequilíbrio alimentar, resultando em falta de nutrientes para o folículo;
- Outros fatores como hereditariedade ou estresse mental extremo.
Alguns dos principais tipos de alopecia são:
Eflúvio telógeno: queda abundante e gradual de fios de cabelos normais após episódios febris, uso de medicamentos ou estresse.
Alopecia pós-parto: queda de cabelos da gestante dois ou três meses após o parto por razões hormonais. Durante a gestação 95% dos folículos estão na fase de crescimento e após o parto esse percentual pode cair para até 70% dos folículos nos primeiros quatro meses de vida do bebê.
Alopecia areata: é uma condição dermatológica comum, não cicatrizante, regularmente distinguida por manchas de perda de cabelo no couro cabeludo que também se manifestam em outras formas graves, incluindo alopecia totalis (perda total de cabelo no couro cabeludo) e alopecia universalis (perda completa de cabelo no couro cabeludo e no corpo). Cerca de 2% da população é afetada por essa condição autoimune.
Alopecia difusa: queda de cabelo mais comum nas mulheres, que ocorre de maneira difusa. Sua causa pode estar associada a disfunções da tireoide, influências hormonais, deficiência de ferro e medicamentos.
A vitamina D
A vitamina D é uma vitamina lipossolúvel (outra vitamina lipossolúvel muito conhecida é a vitamina A e já falamos sobre suas aplicações em cosméticos) naturalmente presente em alguns, mas também é produzida pelo organismo por ação dos raios ultravioletas na pele (sim, você também faz fotossíntese; não são apenas as plantas!). Entre as principais ações da vitamina D no organismo está a promoção da absorção de cálcio no intestino. Por isso a vitamina D está tão associada ao crescimento ósseo. Sem vitamina D suficiente, os ossos podem se tornar finos, frágeis ou deformados.
A vitamina D na sua forma original é inerte e deve passar por duas hidroxilações no corpo para ativação. A primeira ocorre no fígado e converte a vitamina D em 25-hidroxivitamina D, também conhecido como calcidiol. Então, no rim, é forma a 1,25-di-hidroxivitamina D (fisiologicamente ativa), também conhecida como calcitriol.
A concentração sérica de 25-hidroxivitamina D é o melhor indicador do status da vitamina D porque ela reflete tanto a vitamina D produzida na pele quanto aquela obtida a partir de alimentos e suplementos. Ela funciona como um biomarcador e por isso é muito utilizada em estudos científicos, como os que estão nas referências desse artigo.
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Deficiência de vitamina D e alopecia areata
Os artigos consultados apontam para relação entre a deficiência sérica dos níveis de 25-hidroxivitamina D (em português, isso significa deficiência de vitamina D no sangue) e o aumento na gravidade da alopecia areata. Estudos similares foram realizados em diferentes países e com quantidades distintas de pacientes, mas todos encontraram níveis baixos de 25-hidroxivitamina D em pacientes diagnosticados com alopecia areata.
Esses estudos também apontam que a suplementação de vitamina D pode ser associada nos tratamentos contra a queda de cabelo, ou o aumento da exposição benéfica ao sol para que o próprio organismo sintetize vitamina D.
Até abril de 2018, um total de 1255 indivíduos com alopecia areata juntamente com outros 784 indivíduos sem a doença participaram de 14 estudos envolvendo a relação dos níveos séricos de 25-hidroxivitamina D e a alopecia areata. Ainda não foi possível encontrar uma relação direta entre a concentração sérica de 25-hidroxivitamina D e a extensão da perda de cabelo, de modo a permitir escalas de diagnóstico e tratamentos.
Mas os indivíduos com alopecia areata apresentaram menor nível sérico de 25-hidroxivitamina D em comparação aos indivíduos saudáveis. Portanto, a deficiência de vitamina D deve ser avaliada em pacientes com alopecia areata, bem como a suplementação nutricional de vitamina D ou a aplicação tópica de seus análogos podem ser possíveis meios de reduzir a severidade da queda capilar.
A deficiência de Vitamina D pode ser detectada em indivíduos que possuem pouca exposição solar em seu dia a dia, mas merecem atenção maior aqueles que fizeram cirurgia bariátrica, que possuem doenças inflamatórias crônicas, tem insuficiência renal, que têm pele escura, gestantes e lactantes, ou que são idosos que estão no grupo de risco para insuficiência de vitamina D. Para a endocrinologista Marise Lazaretti Castro (CRM 42.493–SP), a suplementação vitamínica realizada com orientação médica é uma maneira efetiva de garantir a suficiência de vitamina D ao organismo.
Mas vale lembrar que podemos obter vitamina D da alimentação, principalmente peixes como salmão, atum, sardinha ou cogumelos cultivados ao sol. Assim como nossa pele é capaz de sintetizar vitamina D após exposição ao sol. Tudo em equilíbrio, afinal a exposição excessiva ao sol sem proteção pode ter consequências negativas como queimaduras na pele e até câncer de pele (no longo prazo). Será uma oportunidade para a oferta de nutricosméticos contra a alopecia areata? De qualquer maneira, é importante reforçar que qualquer tratamento deve ter acompanhamento por profissionais da saúde como médicos, farmacêuticos e nutricionistas.
Referências
Vitamin D. National Institutes of hair.
Bhat Y.J.; Latif I.; Malik R. et al. Vitamin D level in alopecia areata. Indian J Dermatol (2017), n.62, p.407-10.
Gade, V.K.V., Mony, A., Munisamy, M. et al. An investigation of vitamin D status in alopecia areata. Clin Exp Med (2018).
Lee, S.; Kim, B.; Lee, C. et. al. Increased prevalence of vitamin D deficiency in patients with alopecia areata: a systematic review and meta‐analysis. J Eur Acad Dermatol Venereol (2018), n.32, p.1214-1221.
Thompson, J.M., Mirza, M.A., Park, M.K. et al. The Role of Micronutrients in Alopecia Areata: A Review. Am J Clin Dermatol (2017), n.18, p.663-679.
Wilkinson, J. B. e Moore, R. J. Cosmetología de Harry. Madrid : Ediciones Diaz de Santos, 1990.