Desodorantes e Antitranspirantes

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Neste texto, compilamos e atualizamos muito do que foi publicado no Cosmética em Foco nos últimos anos sobre desodorantes e antitranspirantes. A começar por uma explicação sucinta sobre o suor e o motivo pelo qual temos mau odor corporal quando suamos. Depois apresento os principais mecanismos de combate ao suor e ao mau odor (o temido CC). Por fim, apresento os principais ingredientes utilizados nesse tipo de produto. Boa leitura!

Em 2009 foram vendidos R$ 21,6 bilhões em produtos cosméticos, sendo 9,3% desse mercado representado pelos desodorantes, uma importante classe da higiene pessoal que hoje é parte das preocupações diárias das pessoas em todo o mundo. Em 2016, o Brasil era o segundo maior mercado mundial em desodorantes.

Mesmo que existam relatos do uso de fragrâncias desde o Egito Antigo e o Império Romano, esses produtos só foram introduzidos no mercado no início do século XX, quando a transpiração e o odor corporal passaram a ser considerados inconvenientes (se você se interessa, leia mais nesse texto aqui sobre a história da cosmetologia).

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O suor

O suor tem uma importante função fisiológica de manter a temperatura corporal próxima a 37ºC, além de manter a elasticidade e hidratação da pele. Pois foi justamente a habilidade de transpirar até 1,8 litros por hora que permitiu ao ser humano adaptar-se a diferentes climas.

a função do suor é manter a temperatura corporal.
Foto: kues / Freepik.com

O suor é um líquido isotônico de pH entre 4 e 6,8 produzido pelas glândulas sudoríparas. Ele é secretado para a superfície cutânea para reduzir o pH da pele para prevenir o crescimento bacteriano. A perda mínima na transpiração é de 0,5 litros e no máximo de 10 litros, sendo que os homens suam mais que as mulheres.

As glândulas sudoríparas, localizadas abaixo da epiderme, são classificadas como apócrinas e écrinas.

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As glândulas sudoríparas écrinas distribuem-se por toda a pele, especialmente nas palmas das mãos, solas dos pés, axilas e testa, mas não estão presentes nas membranas mucosas. Estão sob controle térmico e são inervadas por fibras nervosas do sistema simpático colinérgico. São elas as responsáveis pela formação do suor aquoso que mantém a temperatura corporal e impede a hipertermia. O fluido que secretam é desencadeado por estímulos térmicos ou psíquicos e contém cloreto, ácido láctico, ácidos graxos, uréia, glicoproteínas e mucopolissacarídeos.

As glândulas sudoríparas apócrinas são grandes e seus ductos se abrem para os folículos pilosos. Elas estão presentes nas axilas, aréolas mamilares e região anogenital. Tornam-se ativas na puberdade e produzem uma secreção leitosa, inodora e rica em proteínas e material orgânico. Estão sob o controle de fibras nervosas simpáticas adrenérgicas e seu estímulo principal é hormonal.

Muita gente fala e escreve errado, achando que soar e suar são a mesma coisa. Então, qual o verbo correto para se referir à transpiração: suar ou soar? A resposta é bem simples. Suar (com u) é quando transpiramos para manter a temperatura do corpo equilibrada. Já soar (com o) é o mesmo que ecoar, repercutir, produzir som. Por isso há uma frase fácil para quem quer se lembrar de sempre falar e escrever certo: o sino da igreja soa, seu corpo sua.

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Por que o suor fede

Inicialmente o suor não apresenta odor, ou seja, é inodoro.  Mas é a partir da ação de bactérias, naturalmente presentes na pele, sobre os componentes suor apócrino que são produzidas as substâncias fétidas. O mau odor varia de pessoa para pessoa, mas as substâncias responsáveis pelo odor são iguais para todos: os ácidos isovalérico, acético, láctico, propiônico, butírico, caproico e caprílico.

É comum se referir ao mau odor como CC, abreviação para a expressão “cheiro de corpo”, muito usada no início do século XX. Período em que os primeiros produtos começaram a ser comercializados com o fim específico de controlar o odor corporal. Algumas campanhas publicitárias da época diziam que ter cheiro de corpo não era mais desculpa para fala de higiene.

Como prevenir o mau odor derivado do suor

Então, a essa altura todos já formularam hipóteses de como combater o mau odor oriundo da transpiração. Conforme a imagem abaixo, existem três maneiras principais de se obter esse resultado:

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  1. controlar a transpiração;
  2. controlar a proliferação de bactérias; e
  3. mascarar ou reduzir o odor formado.
Como o mau odor é formado a partir do suor e os mecanismos de controle do mau odor.

Os desodorantes

São classificados como produtos de grau de risco 1 e segundo o Decreto Nº 79094/1977: “são destinados a combater os odores da transpiração, podendo ser coloridos e perfumados, apresentados em formas e veículos apropriados.”

Eles evitam a formação do odor ou mascaram/eliminam o odor formado. Por isso são compostos por antibacterianos que inibem o desenvolvimento de bactérias na região.

Principais ativos: Etanol (no máximo 60%) e Triclosan (no máximo 0,3%).

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Outros componentes: EDTA Tetrassódico, BHT e Bicarbonato de sódio/potássio.

Os antitranspirantes

São considerados produtos de grau de risco 2, portanto é necessária comprovação de suas atividades junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O mesmo Decreto Nº 79094/1977 descreve os antitranspirantes como “produtos destinados a inibir ou diminuir a transpiração, podendo ser coloridos e/ou perfumados, apresentados em formas de veículos apropriados, bem como associados a desodorantes.”

Eles reduzem a secreção das glândulas sudoríparas écrinas e apócrinas ao bloquearem os ductos de passagem do líquido para o meio externo.

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Principais ativos: complexos de alumínio e zircônio (Aluminum Zirconium Tetrachlorohydrate), cloreto de alumínio (Aluminum Chloride), cloridróxido de alumínio (Aluminum Chlorohydrate), dicloridrato de alumínio (Aluminum Dichlorohydrate) e sesquicloridrato de alumínio (Aluminum Sesquichlorohydrate). Verificar na RDC 03/2012 (e suas atualizações) os percentuais máximos permitidos desses sais. Podem ser associados a ingredientes desodorantes e outros aditivos que melhorem ou corroborem com sua ação.

Se não for sair de casa, dê preferência aos desodorantes, pois são mais baratos e menos passíveis de causar reações de hipersensibilidade e alergias. Exceto aos indivíduos sensíveis ao álcool no caso dos desodorantes alcoólicos.

Porque desodorantes causam manchas

As manchas nas axilas são causadas por resíduos das formulações e predisposição do indivíduo. Basta suspender o uso que elas somem. Não há a menor necessidade de se utilizar produtos clareadores da pele, principalmente se for sem o consentimento de seu dermatologista. Também há evidências de que a alimentação esteja de alguma forma relacionada, como o consumo excessivo de alho, por exemplo.

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desodorantes podem causar manchas em roupas?
Foto: nadtytok / FreeDigitalPhotos.net

As maiores reclamações são da ocorrência de manchas nas roupas brancas, bem como alteração na cor dos tecidos. A coloração amarelada observada no tecido branco aparece por conta da presença de ferro no ativo antitranspirante, na água utilizada ou mesmo no suor do indivíduo. Assim, resíduos do produto ficam impregnados no tecido. Então ao passar a roupa com o ferro de passar, as altas temperaturas promovem a decomposição dos resíduos da formulação e deixam a característica mancha amarelada nas roupas brancas e as manchas brancas nas roupas coloridas.

O ideal é lavar bem a região das axilas nas roupas antes de colocá-las na máquina e usar o ferro de passar mais brando ou aqueles aparelhos de vapor usados para passar roupas. Lembre-se também que há diferentes composições disponíveis como aerosol, cremes, loções, roll-on, sprays, enfim, descubra a que melhor se adapta às suas necessidades e a tendência de manchar ou não a pele ou as roupas.

Um pouco mais sobre o alumínio e seus derivados

O alumínio é um dos elementos químicos mais presentes na natureza. Diz-se que é o terceiro elemento mais comum na Terra. Apesar disso, a toxicidade da exposição frequente às diversas fontes de alumínio ainda é desconhecida.

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O cloreto de alumínio (Aluminum Chloride) foi o primeiro ativo antitranspirante utilizado com boa eficácia. No entanto, tem o inconveniente de causar irritação da pele, manchas e danos aos tecidos, devido ao pH das soluções aquosas desta substância.

O cloridrato de alumínio ou cloridróxido de alumínio surgiram para minimizar os inconvenientes do cloreto de alumínio. Suas soluções apresentam pH mais próximo ao da pele e provocam menos danos aos tecidos. O sesquicloridróxido de alumínio (Aluminum Sesquichlorohydrate) também apresenta baixo grau de irritação, sendo portanto indicado para produtos hipoalergênicos, bem como o dicloridrato de alumínio (Aluminum Dichlorohydrate).

Os complexos de cloridrato de alumínio e zircônio tamponados são também mais eficazes e menos irritantes que o cloreto de alumínio. Os cloridrato de alumínio e zircônio ativados, por sua vez, são ainda mais eficazes. Aos formuladores, mais uma vez, cabe a consulta à RDC 03/2012 para prever os limites e usos permitidos para cada ativo antitranspirante e, eventualmente, os desodorantes.

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O mecanismo de ação dos antitranspirantes é a difusão do sal pelo ducto sudoríparo que após a lenta neutralização da solução ácida de sal metálico, produz um gel ou complexo mucopolissacarídeo. Esta obstrução impede a saída do suor e permanece até que a queratina afetada seja substituída pelos processos normais de renovação celular. Não existem evidências de danos permanentes às glândulas sudoríparas, principalmente porque a transpiração normal recomeça logo após a suspensão do uso do produto.

Os complexos AZG (alumínio-zircônio-glicina)

O AZG é obtido pela reação do cloridrato de alumínio com cloreto de zircônio. Esta reação, em presença do aminoácido glicina leva à obtenção dos complexos ZAG. Estes ativos antitranspirantes foram desenvolvidos especialmente para formulações anidras, ou seja, que não contém água e apresentam maior redução na sudorese quando comparados ao cloridrato de alumínio. A nomenclatura internacional dessa classe de antitranspirantes apresenta quatro tipo: Aluminum Zirconium Tetrachlorohydrex GLY, Aluminum Zirconium Trichlorohydrex GLY, Aluminum Zirconium pentachlorohydrex GLY e Aluminum Zirconium octachlorohydrex GLY (ingrediente ativo nesse exemplo de produto de mercado).

A concentração máxima permitida é de 20% de alumínio e de zircônio anidro e 5,4% de zircônio. Além disso, a relação entre o número de átomos de alumínio e de zircônio deve estar compreendida entre 2 e 10. Bem como a relação entre a soma dos átomos de alumínio e zircônio e o número de átomos de cloro deve estar compreendida entre 0,9 e 2,1. Eles não são permitidos em aerossóis e sprays.

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Efeitos adversos no uso de antitranspirantes

Eventualmente, o uso diário de antitranspirantes pode irritar a pele, provocando sensações de queimadura e ardor. O início da irritação pode acontecer imediatamente ou após dias ou semanas de uso. No entanto, já se observa melhora em até três dias após a suspensão do uso e remoção total do produto irritante da pele. Na dúvida, consulte sempre seu médico.

Toxicologia

Nascimento e colaboradores, pontuaram que a absorção por inalação de cosméticos, como os antitranspirantes aerosol, pode elevar a taxa deste metal no soro, ossos e urina. Ainda não foi possível concluir se o alumínio é absorvido no pulmão ou no trato gastrointestinal, pois os estudos ainda não isolaram esse tipo de exposição. Vários são os efeitos associados à inalação do alumínio, por isso é importante proceder a aplicação de aerosóis conforme a recomendação dos fabricantes de antitranspirantes de “aplicar a uma distância mínima de 15cm da axila” e “proteger a boca e as narinas para evitar a inalação do produto”. Segundo eles, Exley, em um estudo publicado em 1998, critica a alegação de que o alumínio em antiperspirantes possa afetar a saúde humana. Os pulmões, o trato gastrointestinal e a pele são as principais barreiras ante a entrada de alumínio no organismo. O qual é absorvido pelo organismo, rapidamente é excretado pelos rins. Portanto, a exposição a níveis normais de alumínio não representa risco para os indivíduos saudáveis.

Complexos com glicina não podem ser usados em aerosol.
Foto: Ambro / FreeDigitalPhotos.net

Desodorantes e antitranspirantes causam câncer?

Nos últimos anos, vem crescendo certa polêmica de uma possível relação entre o uso de desodorantes e antitranspirantes e câncer de mama. Um estudo de revisão publicado em 2016 por Mohamed Farouk Allam, da Universidade de Córdoba, na Espanha, analisou o risco de desodorantes a antitranspirantes causarem câncer de mama. A busca compreendeu estudos publicados de 1887 a 2016, dentre os quais, apenas dois estudos caso-controle apontaram para possível associação do risco; um em 2002 e o outro em 2006.

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Em conclusão, o autor relata que a revisão sistemática não revelou qualquer possível associação entre o uso de desodorantes e antitranspirantes e o risco de câncer de mama. No entanto, ele sugere que outros estudos quantitativos (estudos populacionais de coorte) são necessários para validar a ausência do risco.

Portanto, o que a literatura científica aponta até o momento é que desodorantes e antitranspirantes não aumentam o risco de câncer de mama.

Alternativas para controlar o odor das axilas em produtos naturais ou orgânicos

Modo de ação Ingredientes funcionais
Mascarar odor Fragrâncias óleos essenciais, vanilina, mentol.
Eliminar o odor Argilas (caulim, bentonita), amido de milho, araruta, bicarbonato de sódio, fermento de saccharomyces (enzimas).
Prevenir o odor (antimicrobianos, bacteriostáticos) Óleos essenciais antimicrobianos (melaleuca, capim-limão, orégano, satureja, menta piperita)e componentes de fragrância (terpinen-4-ol, isoeugenol, hinoquitiol);
Extratos de plantas (musgo de carvalho, humulus, hammamelis);
Sais metálicos (alúmen, sais de zinco);
Derivados de ácidos graxos láurico, cáprico, caprílico e undecinênico;
Ésteres hidrolisáveis (citrato de trietila e salicilato de benzila).

Algumas matérias-primas disponíveis como alternativa no controle do odor sem ação antitranspirante

Ingrediente Descrição
Amiderm ER (Alban Muller) INCI: Glycerin (and) Water (aqua) (and) Hamamelis Virginiana (Witch Hazel) Bark Leaf Extract (and) Quercus Infectoria (Oak) Gail Extract (and) Arginine (and) Leucine
Complexo que protege contra irritação inflamatória e previne o dor desagradável associado à transpiração. Estabiliza o pH natural da pele.
Hydagen C.A.T (Basf) INCI: Triethyl citrate
Utilizado como um desodorante não microbicida em sabonetes e desodorantes stick de pH alcalino.
Hydagen DCMF (Basf) INCI: Chitosan
Usado em Skin Care como agente desodorante, possui atividade antimicrobiana e previne a produção excessiva de substâncias formadoras de odor.
Tegodeo HY 77 (Evonik) INCI: Zinc Ricinoleate (and) Triethanolamine (and) Dipropylene Glycol (and) Lactic Acid
Utilizado em desodorantes por oferecer boas propriedades desodorizantes.
Tegodeo PY 88 (Evonik) INCI: Zinc Ricinoleate
Utilizado em desodorantes por oferecer boas propriedades desodorizantes.

Referências

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Allam MF. Breast Cancer and Deodorants/Antiperspirants: a Systematic Review. Cent Eur J Public Health. 2016;24(3):245-7. doi: 10.21101/cejph.a4475.
Alumínio. Acessado em 20/06/2010.
ABIHPEC. Dados de mercado 2009-2010. Acesso em 30/05/2010.
ABIHPEC. Panorama do setor 2009-2010. Acesso em 30/05/2010.
Abihpec. Panorama do setor 2017. Acesso 25/03/2018.
Cosmetics & Toiletries magazine, Vol. 127, n.2, February, 2012, p.94-99.
SCHREIBER, Jörg. Antiperspirants. In: BAREL, AO; Paye, M; MAIBACH, HI. Handbook of Cosmetic Science and Technology. 3rd Ed. New York: Informa Healthcare, 2009. p.632-3.
NASCIMENTO, Ludmila Pinheiro; RAFFIN, Renata Platcheck; GUTERRES, Sílvia Stanisçuaski. Aspectos atuais sobre a segurança no uso de produtos antitranspirantes contendo derivados de alumínio. Infarma, v.16, n.7-8, 2004.
RIBEIRO, Cláudio. Cosmetologia Aplicada a Dermoestética. 2ª Edição. São Paulo: Pharmabooks, 2010.
Tannin pH Stabilization Against Odors and Irritation from Alban Muller. Acesso em 29 ago 2013.

Por Gustavo Boaventura

Criador e Diretor de Conteúdo. Farmacêutico Industrial pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Especialista em Pesquisa & Desenvolvimento de Produtos Cosméticos. Mestre em Comunicação pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) com foco no consumo de cosméticos masculinos. Bacharel em Administração pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas). Experiência em Pesquisa & Desenvolvimento de produtos capilares. É o idealizador e criador do Cosmética em Foco e escreve desde 2007.

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