Especial Verao 2010 – Parte 5

publicado

Dando continuidade ao nosso Especial Verão 2010, este post é dedicado ao astro-rei e seus efeitos sobre a nossa pele. Os quatro posts anteriores abordaram de maneira geral todo o conteúdo do projeto, a partir de agora vamos nos aprofundar mais em alguns pontos mais importantes para usuários e profissionais de marketing e desenvolvimento de cosméticos, e finalizaremos com posts dedicados integralmente aos profissionais de nível superior sobre produtos e matérias-primas.

O astro-rei

O sol é a fonte de luz e calor para o nosso planeta, e tem garantido a vida na Terra há, pelo menos, 3,5 bilhões de anos. Sua energia, proveniente de reações de fusão nuclear, é emitida na forma de ondas eletromagnéticas de comprimentos que variam de 200 a 3000nm. Da radiação total que chega à atmosfera terrestre, apenas uma fração atinge a superfície. Boa parte dessa radiação é dispersa pelas moléculas de nitrogênio e oxigênio presentes no ar em comprimento de onda na região do visível, mas especificamente na cor azul. (para quem ainda não sabia: é essa a razão pelo céu ser azul, não é “porque Deus é homem”. rsrs)

A radiação emitida pelo sol é dividida em diferentes radiações como veremos a seguir.

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Infravermelho (IV) (780 a 3000nm) – representa cerca de 48% da radiação solar que chega à Terra e é a responsável pelo aquecimento do nosso planeta. Os raios infravermelho atravessam vidros e superfícies plásticas transparentes, penetram profundamente a pele humana, podendo atingir a hipoderme, onde provocam a dilatação dos vasos sanguíneos (ou seja, é a responsável pelo edema ou inchaço local quando ocorre a exposição excessiva ao sol), estimulando a circulação e o metabolismo geral do corpo humano.

Radiação visível (VIS) (380 a 780nm) – responsável por 44% da radiação solar, é composta por sete coras fragmentadas (popularmente conhecidas como arco-íris): vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, anil e violeta. Por meio dos olhos e da pele, esta radiação é responsável pela secreção de um hormônio que regula o ritmo do sono noturno, a melatonina.

Radiação Ultravioleta (UV) (200 a 400nm) – representa 7% do espectro solar, com os menores comprimentos de onda e o maior nível de energia. Quando atinge os seres vivos, a UV pode causar queimaduras, alergias, envelhecimento cutâneo e alterações celulares que predispõem ao câncer de pele. No entanto, ela é necessária para a síntese de Vitamina D3 (responsável pela fixação do cálcio nos ossos), melanina e tem ação bactericida e fungicida. Como já vimos, a radiação UV é subdividida em três faixas a saber:

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UVA (320 a 400nm) – é a menos eritematosa, mas penetra mais profundamente, podendo causar danos na derme, por isso é a maior responsável pelo fotoenvelhecimento. Esta radiação possui a mesma intensidade durante todo o ano, independente se inverno ou verão, sendo um pouco mais elevada entre 10h00 e 16h00. É a radiação mais presente nas câmaras de bronzeamento artificial.

UVB (290 a 320nm) – cerca de 5% de toda a radiação UV que atinge a superfície terrestre é UVB. É responsável por 80% dos danos provocados pelo sol. Ela produz o eritema (vermelhidão), as queimaduras, a pigmentação da pele e a diminuição resposta imune local (aumentando o risco de infecções). Em longo prazo, os efeitos desta radiação são cumulativos, assim, dependendo do fototipo de pele e do tempo total de exposição da pele ao sol, os raios UVB podem causar danos graves e irreversíveis.

UVC (200 a 290nm) – não atinge a superfície terrestre, pois é absorvida pela camada de ozônio e pode ser gerada artificialmente para esterilização de água e equipamentos cirúrgicos.

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Raios X e raios gama (abaixo de 200nm)

O índice UV

A intensidade com a qual a radiação solar atinge a superfície terrestre e a pele humana depende de vários fatores, tais como o comprimento da onda (veja acima), a latitude, a altitude, a atmosfera, a poluição, as nuvens, a estação do ano, o horário e o tempo de exposição.

O índice ultravioleta (IUV) mede a intensidade da radiação UV que incide sobre a superfície da Terra, levando-se em consideração a concentração de ozônio no ar, a posição geográfica, a altitude, o tipo de superfície, a hora do dia, a estação do ano e as condições atmosféricas. Este índice pode ser acompanhado diariamente no site do INEP. As principais praias do Rio de Janeiro têm letreiros exclusivos para o IUV funcionando em tempo integral para que os banhistas estejam cientes dos cuidados que devem tomar.

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Efeitos dos raios UV na pele

As principais funções do maior tecido do corpo humano é nos proteger da perda excessiva de água, do atrito com o ar, suas impurezas e objetos, e da luz do sol. A pele, no entanto, com o passar dos anos sofre alterações morfológicas e funcionais como veremos a seguir.

Após a exposição à radiação UV pode haver maior perda transepidermal de água, devido a um rearranjo das células na camada córnea (parte mais externa da epiderme). A pele sofre agressões da radiação UV, apresentando um processo inflamatório local, cujo principal sintoma é o eritema (vermelhidão), a mais famosa manifestação da exposição exagerada à radiação UV. Cerca de 99% do eritema é causado pela radiação UVB de 2 a 8 horas após a exposição e alcança o máximo em até 36 horas. As ondas UVA parecem ser menos efetivas nesses casos.

Além da tradicional “cor de camarão” (o eritema), as áreas expostas ao sol também podem apresentar prurido (coceira), dor, edema (inchaço), vesiculação (formação de bolhas), necrose da pele (as queimaduras propriamente ditas) e diminuição da resposta imune. Cerca de 90% dos raios UVB são absorvidos pela epiderme e 10% atingem a derme. Portanto, é na camada mais externa da pele que podem surgir as queratoses solares e o câncer de pele. Já os raios UVA agem mais na derme e estão diretamente relacionados ao envelhecimento cutâneo. O calor dos raios infravermelhos estimula a circulação sanguínea e o metabolismo.

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Vitamina D3

A vitamina D3 (colecalciferol) é sintetizada na pele com estímulo da radiação UV a partir da pró-vitamina D3 (7-deidrocolesterol). Sim, nós fazemos fotossíntese! A transformação da vitamina D3 é transformada no fígado em calcitriol, substância (chamada farmacologicamente de metabólito ativo) essencial para a incorporação do cálcio nos ossos. Dessa forma ela previne o raquitismo infantil e a osteoporose. Além disso, esta vitamina apresenta efeitos positivos na regulação do humor.

Bronzeamento

A radiação UV também estimula a síntese de melanina, que promove o bronzeamento da pele. Inicialmente tem-se o bronzeamento imediato, seguido pelo bronzeado verdadeiro 48 horas após a exposição ao sol, atinge o grau máximo em três semanas e depois diminui se a exposição não for contínua. A formação da melanina é um mecanismo de defesa do corpo contra a radiação solar, podendo aumentar a resistência a queimaduras de 10 a 50 vezes, dependendo do fototipo de pele, além de bloquear parte das radiações UV e VIS que atravessam a epiderme.

Envelhecimento cutâneo

O envelhecimento da pele pode ser classificado como intrínseco (devido a fatores genéticos) ou extrínseco (devido a fatores ambientais). Os principais causadores do envelhecimento extrínseco são a exposição ao sol e o tabagismo.

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A pele jovem é igualmente pigmentada, sem manchas, macia, rósea e elástica. A pele intrinsecamente envelhecida é fina, sem elasticidade e enrugada com aprofundamento de linhas faciais de expressão. Já a pele extrinsecamente envelhecida é manchada, espessa, amarelada, frouxa, áspera e dura.

A exposição ao sol acelera e exacerba as alterações clínicas associadas ao envelhecimento da pele, consequência de uma série de alterações metabólicas como o estresse oxidativo que pode causar alterações no DNA, a formação de radicais livres, oxidação de proteínas e desequilíbrio na produção de enzimas antioxidantes, por exemplo. Essas alterações causam a perda da elasticidade e, consequentemente, o surgimento de rugas e flacidez.

Ocorre a diminuição das camadas da epiderme (afinamento) e a pele começa a apresentar ressecamento. Diminui também a capacidade de retenção hídrica do fluido presente na derme e a produção de fibras de colágeno e elastina, responsáveis pela sustentação da pele. Os melanócitos diminui a cada década de vida e os remanescentes apresentam hiperprodução de melanina, causando as famosas manchas senis.

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Câncer de pele

Outro efeito da exposição excessiva ao sol é a ocorrência do câncer de pele. Em virtude da heterogeneidade da pele, o câncer de pele pode se apresentar como diferentes tipos de neoplasias, dentre as quais as mais frequentes são: carcinoma basocelular, responsável por 70% dos diagnósticos de câncer de pele; o carcinoma epidermóide com 25% dos casos e o melanoma, detectado em 4% dos pacientes. O carcinoma basocelular, o mais frequente, é também o menos agressivo. Este juntamente com o carcinoma epidermóide são também chamados de câncer de pele não melanoma, enquanto o melanoma e outros tipos, com origem nos melanócitos, são denominados de câncer de pele melanoma.

Na Austrália, país com as maiores taxas de incidência de câncer de pele do mundo, a doença se tornou um importante problema de saúde pública.

O câncer de pele corresponde a cerca de 25% de todos os tumores malignos registrados no Brasil. Na Austrália e na Nova Zelândia, o melanoma é a quarta forma de câncer mais comum e a sétima mais comum nos Estados Unidos e Canadá. No entanto, quando detectado precocemente, apresenta altos percentuais de cura. Estima-se que a incidência anual seja de 5 mil novos casos de melanoma e 110 novos casos de câncer de pele não melanoma.

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Os habitantes de países do hemisfério sul, como Austrália — onde o câncer de pele mata mais de mil indivíduos por ano — e Nova Zelândia, estão mais expostos a radiação solar UV que os habitantes de países do norte da Europa. O impacto dessa diferença na radiação na saúde da população é nítido, uma vez que a incidência e a mortalidade por melanoma na Austrália e na Nova Zelândia são , respectivamente, quatro e duas vezes mais alta que o norte da Europa.

Além disso, a exposição crônica tem causado rápido crescimento na incidência de câncer de pele não melanoma. Mais de 80% dos casos deste tipo de câncer ocorre em áreas do corpo que são freqüentemente expostas à luz solar, tais como cabeça, pescoço, costas e mãos. Há, no entanto, uma relação paradoxal na qual indivíduos que trabalham expondo-se frequentemente ao sol aparentam ter um risco menor de contrair melanoma quando comparados aos outros tipos de trabalhadores. A justificativa proposta é que a exposição intermitente à luz UV seja mais danosa que a exposição contínua.

No entanto, todos devem se proteger dos efeitos nocivos da luz solar através de medidas simples como:

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  • Utilizar roupas que protejam a maior superfície corporal possível;
  • Procurar ao máximo a sombra;
  • Evitar o sol entre as 10:00 e as 14:00h, quando ele a radiação é mais intensa;
  • Utilizar fotoprotetores com fator de proteção alto ou altíssimo (FPS acima de 12).

Referências:
DRAELOS, Zoe Diana. Cosméticos em Dermatologia. 2a Edição. Rio de Janeiro: Revinter, 1999. p.242-4
NEVES, Kátia. Efeitos do sol sobre a pele. Edição Temática Proteção Solar, p.14-7, n. 7, Ano 2, Março, 2008.
RIBEIRO, Cláudio. Cosmetologia Aplicada a Dermoestética. São Paulo: Pharmabooks, 2006. pp.125-127
INSTITUTO de Químca da Universidade de São Paulo. Bioquímica da Beleza. Curso de Verão. Abril de 2005. Versão revisada. http://www.sbbq.org.br/revista/mtdidaticos/bioq_beleza.pdf.
BRASIL. Instituto Nacional do Câncer. Câncer de pele. Disponível em: http://www.inca.gov.br/conteudo_view.asp?id=333. Acesso em 23 de Setembro de 2007.
FRANCE, Presse. Ciência e Saúde. Folha Online 07/01/2004. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u10863.shtml. Acesso em 23/09/2007.
LEONARDI, Gislaine Ricci. Cosmetologia Aplicada. São Paulo: Medfarma, 2004. pp.14-6.
BASTUJI-GARIN, S.; DIEPGEN, T. L. Cutaneous malignant melanoma, sun exposure, and sunscreen use: epidemiological evidence. British Journal of Dermatology, n.61, v.146, 2002, pp. 24-30.
DIFFEY, B. Do we need a revised public health policy on sun exposure? British Journal of Dermatology, v.154, 2006, pp.1046-1051
BRASIL. Instituto Nacional do Câncer. Estimativa 2006: Incidência de câncer no Brasil [Relatório]. Rio de Janeiro : INCA, 2005. p. 39.
DIEPGEN, T. L.; MAHLER, V. The epidemiology of skin cancer. British Journal of Dermatology, n.61, v.146, 2002, pp. 1-6.

Por Gustavo Boaventura

Criador e Diretor de Conteúdo. Farmacêutico Industrial pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Especialista em Pesquisa & Desenvolvimento de Produtos Cosméticos. Mestre em Comunicação pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) com foco no consumo de cosméticos masculinos. Bacharel em Administração pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas). Experiência em Pesquisa & Desenvolvimento de produtos capilares. É o idealizador e criador do Cosmética em Foco e escreve desde 2007.

2 comentários

  1. Oi Gux!!!! Parabéns pelo seu Cosmética em Foco, sempre que dá eu dou uma lidinha pra tirar várias dúvidas!!!
    Eu queria te perguntar uma coisa que me aflige: porque não tem hidratante corporal com protetor solar? Tipo aqueles que a gente compra da Natura, Boticário e tals. Seria muito bom se tivesse, porque aí a gente só ia precisar se procupar com o rosto. Afinal, é tão difícil assim ou só deixaria o produto mais caro?
    Um beijo,
    Cibelle.

  2. Cibelle,

    todos querem isso mesmo, mas há duas grandes dificuldades: o custo para vender esse hidratante no varejo a preço acessível e fazer um hidratante diário com FPS que não seja oleoso. As pessoas que usam hidratantes diariamente o fazem porque o produto é agradável. Eu acho super válido um hidratante com FPS mais baixo para o inverno porque também é importante se proteger no inverno. Veremos isso em um post do Especial Verão 2010.

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