É comum crer que um produto inovador tenha que obrigatoriamente ser sempre melhor, mais sofisticado e, por consequência, mais caro que os produtos aos quais se propõem a substituir. Bem, não necessariamente acontece assim! Na verdade, uma onda de modelos de negócios inovadores de baixo custo tem tomado uma parcela do mercado de grandes empresas por todo o mundo (em diferentes setores), especialmente em economias em desenvolvimento (como o Brasil!), onde empresas locais e multinacionais procuram atender consumidores com recursos financeiros limitados. No Brasil, por exemplo, há poucos anos algumas marcas nacionais conseguiram se estabelecer e crescer no mercado ofertando imitações de perfumes importados tradicionais, a um preço mais acessível e, em alguns casos, com odores finais mais agradáveis para o ‘olfato brasileiro’.
Contudo, uma abordagem voltada à inovação de baixo custo requer muito mais que simplesmente oferecer aos clientes atuais uma oportunidade de comprar as mesmas mercadorias por um preço menor. É preciso dirigir-se tanto aos antigos quanto aos novos clientes, proporcionando novidades capazes de conquistá-los. Essencialmente, esses modelos de negócios buscam lançar um portfólio limitado de produtos sem comprometer a qualidade, sabendo o que desenvolver internamente e o que terceirizar, sempre mantendo a simplicidade e eliminando ‘firulas’ que deixam o cosmético mais caro.
Foto: Divulgação Beleza Natural.
Outra característica compartilhada pelas empresas que inovam com produtos de baixo custo é o foco em nichos específicos de consumidores, especialmente aqueles mais sensíveis ao preço e aqueles que estão mais distantes das grandes empresas tradicionais. A vantagem competitiva desses negócios consiste em compreender as necessidades e as mudanças no comportamento desses consumidores e traduzi-las em um produto-solução. Neste aspecto, as empresas nacionais têm grande vantagem sobre as multinacionais, afinal, quem melhor que os próprios brasileiros para entender as particularidades dos nossos consumidores, nas mais diferentes condições financeiras.
Exemplos clássicos e bastante relevantes de empresas nacionais que conseguiram se distinguir ao atuar em um nicho de consumidores negligenciados são a Aroma do Campo e o Instituto Beleza Natural. A primeira inovou introduzindo cosméticos étnicos no mercado já em 1996 (saiba mais aqui) e a segunda focou sua estratégia na reafirmação da beleza dos cabelos cacheados (saiba mais aqui). Vale ressaltar que o Beleza Natural mantém sua capacidade inovativa por meio de parcerias com o meio acadêmico, como o Polo de Biotecnologia do Rio de Janeiro (Bio Rio) e a Universidade de Brasília (UnB). Outro exemplo que merece ser mencionado, embora não seja propriamente uma inovação de baixo custo, foi a apresentação de um spray formulado com água mineral da Serra do Japi (interior de SP) pela empresa PuraInova, como alternativa aos sprays de águas termais importados da França (saiba mais aqui).
De fato, a literatura apresenta ao menos dez oportunidades de inovação tecnológica em produtos cosméticos e, entre elas, está a proposta da segmentação dos produtos para nichos específicos. Outras possibilidades de inovação tecnológica são os ingredientes (ativos, não-ativos, beneficiados e alternativos); as embalagens (funcionais e alternativas); a multifuncionalidade; as formas de apresentação/aplicação do cosmético e a associação com outros gêneros de produtos, como os nutricosméticos. Nas minhas próximas postagens pretendo trazer exemplos de inovações tecnológicas que podem ser aplicadas ao desenvolvimentos de produtos de baixo custo. Enquanto isso, nos vemos na FCE Cosmetique semana que vem!
Referências:
http://www.emeraldinsight.com/doi/abs/10.1108/10878571111114464
https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1111/ics.12220