Inovando com responsabilidade

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Há pouco tempo ouvi de uma profissional bastante experiente que “a indústria cosmética está tão focada em inovar, que acaba abrindo mão de excelentes formulações já conhecidas para dar espaço a novas formulações, muitas vezes não tão boas assim”. A pressão para inovar é uma realidade no setor. No entanto, utilizar um ingrediente inovador ou modificar um produto para usar o apelo “nova fórmula” nem sempre resultará em um produto melhor. Para refrescar a memória, a inovação consiste na introdução de uma novidade ou mudança, que pode se dar de forma radical ou incremental (relembre estas definições aqui!).

Mas por que é tão importante inovar?

Em alguns mercados, inclusive o cosmético, a inovação se tornou peça chave para garantir a rentabilidade e a sobrevivência dos negócios. Aquilo que é desconhecido e misterioso exerce certa influência sobre as pessoas. E não é diferente em se tratando de consumo! Em geral, os consumidores adoram provar novidades. Mesmo aqueles que já têm sua lista de produtos preferidos e indispensáveis, eventualmente se aventuram com um produto novo. De fato, lançar novidades no mercado foi um dos meios que as empresas encontraram para conquistar mais clientes, para fazer com que as pessoas fiéis a determinados produtos sintam-se cobiçadas a testar algo diferente, de uma marca diferente.

Isso significa que o produto inovador é sempre melhor?

A inovação é apenas uma das estratégias para conquistar novos clientes. Contudo, quando a inovação é mal conduzida, ela pode representar uma ameaça para os produtos já existentes no portfólio da empresa, ou mesmo para a empresa como um todo. Por exemplo, imagine um(a) consumidor(a) que utiliza há anos o mesmo hidratante corporal de uma determinada marca. De repente, tal produto é apresentado no mercado como uma ‘nova fórmula’ ou sai de linha para dar espaço a uma nova marca do mesmo fabricante. Ainda que testes de laboratórios ofereçam algum suporte quanto à qualidade da fórmula/marca inovadora, a subjetividade da escolha do(a) consumidor(a) pode reprovar o novo produto. Afinal, o saudosismo e a rotina são fatores que também afetam a decisão de compra. O(a) consumidor(a) que testa pela primeira vez um novo produto tende a compará-lo com formulações similares que ele(a) já usava no passado. Se o(a) consumidor(a) não perceber as vantagens da nova fórmula, as chances de uma segunda compra diminuem muito.

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Além disso, não necessariamente as novas tecnologias apresentam desempenho melhor que aquelas já existentes. Por exemplo, poucos ingredientes ativos cosméticos lançados mais recentemente têm potencial hidratante tão significativo quanto o da glicerina, uma molécula sabidamente utilizada em cosméticos desde o século XIX. Portanto, antes de começar a utilizar qualquer novidade tecnológica em seus cosméticos, os formuladores devem procurar obter o máximo de informações possíveis de seus fornecedores. Informar-se sobre os estudos que foram realizados com o novo ingrediente, como foram conduzidos e compreender os benefícios que o novo ingrediente pode oferecer são atitudes bastante responsáveis no desenvolvimento de um novo cosmético.

Mas será que vale a pena trocar o certo por um ingrediente novo sobre o qual pouco se sabe?

Depende. E depende de muitas coisas… Entre essas coisas pode-se citar a preferência do consumidor. Como já foi mencionado, verificar se o produto que se pretende lançar ainda atende os mesmos critérios de qualidade (preferência do consumidor!) é essencial para a reputação da marca/empresa. Da mesma forma, é preciso monitorar se os consumidores estão satisfeitos com a formulação atual, e então providenciar as mudanças que vão atender aos anseios dos consumidores. A pequena empresa pode fazer isso, por exemplo, acompanhando os comentários dos consumidores sobre os seus produtos nas mídias virtuais.

De qualquer forma, qualquer mudança nas formulações deve trazer benefícios que sejam perceptíveis tanto para os consumidores quanto para os fabricantes. Inovar apenas por inovar não é uma prática sustentável no longo prazo! Novas tecnologias são lançadas todos os anos. Algumas são excelentes, outras nem tanto! Entender se tais tecnologias podem trazer algum benefício para os consumidores e/ou para os fabricantes é uma das responsabilidades dos formuladores.

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Por Ivan Souza

Coordenador de Conteúdo. Farmacêutico Industrial pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). MBA em Gestão Empresarial (UEM). Doutor em Ciências pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo (USP). Experiência em pesquisa e desenvolvimento de inovações no setor cosmético e farmacêutico.