Marcas globais, produtos locais: por que são tão diferentes?

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Já não é mais novidade que o número de brasileiros viajando para o exterior tem aumentado nos últimos anos. Na verdade, talvez até já tenha começado a decair com a alta do dólar. Mas, de qualquer forma, este número é muito mais expressivo que há dez anos atrás. Seja somente para fins de turismo, ou para trabalhar e estudar, muitos brasileiros têm experimentado a vida no exterior e alguns de seus privilégios, como serviços e produtos que ainda não estão disponíveis no país.

Em se tratando de beleza, há uma variedade de cosméticos e marcas de cosméticos que ainda não chegaram no Brasil. Ao vir para o exterior, os brasileiros passam a conhecer essas novas marcas e o que elas podem oferecer. Eventualmente, algumas dessas marcas e produtos que são mais globais passam a ser fabricados no Brasil. Mas, na percepção de alguns consumidores, o produto da mesma marca feito no Brasil e na Europa, por exemplo, não são iguais. Por quê?

Esta foi uma pergunta que recebemos de um de nossos leitores e, na verdade, a resposta é muito ampla e multifatorial. Contudo, vamos enumerar aqui pelo menos alguns dos motivos que justificam essa diferença na qualidade dos produtos.

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Exemplos de marcas globais na indústria da beleza.
Foto: Reprodução / Cosmetics Business

O primeiro motivo que identificamos é que por se tratarem de regiões geográficas diferentes, nem sempre é possível ou economicamente viável obter as matérias-primas e ingredientes dos mesmos fornecedores. Esta troca de fornecedores para alguns (ou todos!) os componentes do cosmético pode gerar um produto final com o mesmo nome e fórmula, mas com características sensoriais distintas. E alguns consumidores mais exigentes percebem essas mudanças com muita facilidade.

Por exemplo, o óleo de oliva proveniente de Portugal é bastante diferente do óleo de oliva proveniente da Grécia. Isso é verdade na cozinha e também no mundo da beleza! Da mesma forma, ingredientes sintéticos fabricados pelo fornecedor A às vezes são ligeiramente mais diluídos que os fabricados pelo fornecedor B. E nem sempre o fornecedor B consegue exportar para todos os continentes a um preço competitivo.

Outro motivo é que algumas marcas, mesmo globais, tentam adaptar seus produtos às preferencias locais. Em alguns países e regiões, os consumidores preferem produtos com uma textura e sensorial mais pesados. Em outros, preferem um sensorial mais leve e de rápida absorção. Para manter a clientela, mesmo as marcas globais às vezes precisam se adaptar, isto é, fazer pequenas modificações para ter maior aceitação.

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Bepantol® no Brasil e Bepanthol® na Europa.
Foto: Divulgação.

Marcas como La Roche Posay e Vichy têm lançado produtos adaptados aos gostos das(os) brasileiras(os). Além disso, me lembro que uma vez eu comprei o famoso creme Bepantol® (ou Bepanthol® na versão estrangeira!) feito na Alemanha. Eu que já estava bastante acostumado com a nossa querida versão ‘tupiniquim’ não gostei nada, nada, da textura europeia! Na verdade, fiquei até surpreso que a textura deles era mais leve e fresca, como que um creme-gel, enquanto a feita no Brasil é um pouco mais pesada, oleosa, e do meu ponto de vista, mais hidratante! Em outras palavras, não é porque é importado que necessariamente é melhor!

Enfim, às vezes essa diferença é o resultado de um posicionamento da marca, ou seja, a empresa deliberadamente cria fórmulas diferentes para um mesmo produto por acreditar que precisa atuar de modo diferente em regiões diferentes. Por exemplo, um creme de uma marca X que custa US$ 3,00 a unidade para a empresa Z nos EUA, pode ter sua fórmula revista para ser vendido com o mesmo nome e marca ao custo de US$ 2,00 a unidade na China. Algumas marcas acreditam que é melhor estar presente no mercado chinês, mesmo que isso implique em reduzir um pouco a qualidade, do que não ser conhecida por lá…

Como mencionado anteriormente, trata-se de uma questão multifatorial. Certamente, você leitor(a) poderá pensar em outros motivos que não listamos aqui. Então, compartilhe conosco o seu conhecimento e deixe seus pensamentos nos comentários! Até a próxima!

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Por Ivan Souza

Coordenador de Conteúdo. Farmacêutico Industrial pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). MBA em Gestão Empresarial (UEM). Doutor em Ciências pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo (USP). Experiência em pesquisa e desenvolvimento de inovações no setor cosmético e farmacêutico.

3 comentários

  1. Oi Ivan! Aqui é a Erika, lá de Ribeirão, ex-aluna do Pedro. Leio sempre vocês aqui do CF. Já tive muitas experiências com produtos estrangeiros diferentes dos brasileiros. Imagino que além de se adaptarem aos gostos dos clientes e às possibilidades de matérias-primas, as marcas também têm que adaptar os produtos às condições climáticas. Por exemplo, muitas maquiagens desenvolvidas para climas frios simplesmente derretem no nosso calor tropical. É preciso fazer adaptações para conservação do produto em temperaturas altas (vide nossa querida Ribeirão). Outro ponto é a adição de protetores solares às formulações. A maioria dos produtos estrangeiros para pele de uso diário, seja maquiagem, seja para cuidado, não têm proteção solar o que é impensável pra um produto a ser usado no Brasil. E adicionar mais esse componente implica em uma série de adaptações, como você bem sabe. Bem, era só mesmo pra dar opinião e dizer que gosto muito do site de vocês. Abraços 🙂

    1. Oi Erika! Que bom receber a sua visita aqui! Ficamos todos muito contentes com o respeito e carinho que você tem pelo CFOCO! Você lembrou de um fator muito importante! Às vezes, é preciso fazer adaptações na fórmula para atender a características locais, que não dependem necessariamente do consumidor, como o seu exemplo das condições climáticas, ou mesmo a legislação! Já que falamos em protetor solar, aqui nos EUA por exemplo, alguns filtros mais novos que já são aceitos na Europa, ainda não são aprovados aqui! Então, é preciso fazer adaptações na fórmula pra atender a lei… ou o clima, e quem sabe também a cultura, a religião (cosméticos Halal?) etc… Mas quando você fala em adicionar filtros solares à maquiagem ou outra formulação, eu penso que do ponto de visto de marketing talvez seja mais interessante fazer isso tratando o produto como uma nova marca, ou um novo produto dentro da família daquela marca! Em vez de tratar o produto como se fosse exatamente a mesma coisa, entende?! Até porque, ao adicionar filtro solar, muita coisa muda, inclusive a forma como o produto é registrado/notificado em alguns países! É bom te ver por aqui! Um abraço! E obrigado por enriquecer o texto!

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