O Mercado e as PMEs

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O mais recente relatório “Panorama do Setor”, divulgado pela Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC), mostra que a indústria brasileira de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (HPPC) é composta por 2342 empresas, as quais estão concentradas principalmente na região sudeste (62,1%). Se comparado aos relatórios anteriores, percebe-se que o número de indústrias de HPPC no Brasil cresceu continuamente. De fato, este crescimento era esperado, afinal o Brasil é o terceiro maior mercado do mundo para esta categoria de produtos (com um consumo na ordem de US$ 42 bilhões em 2012!)

Contudo, o aumento do número de empresas também conduz a uma concorrência mais acirrada. Por exemplo, o relatório da ABIHPEC também afirma que apenas 20 empresas de grande porte (0,85% do total), com faturamento líquido acima de 9 dígitos, são responsáveis por 73% do faturamento de todo o setor. Logo, as demais 2322 pequenas ou médias empresas (PMEs) deveriam compartilhar os US$ 11,34 bilhões remanescentes. Nada mal, a princípio. Entretanto, na última década houve um crescimento de mais de 500% nas importações de HPPC, ou seja, uma parcela desses US$ 11,34 bilhões corresponde à venda de importados e não será compartilhada pelas PMEs brasileiras. Enfim, a moral da história é que o número de empresas brasileiras de HPPC tem aumentado em uma velocidade maior que o faturamento interno do setor. Então, como as PMEs de HPPC poderiam evoluir neste mercado nos próximos anos?

A melhor resposta para esta pergunta talvez fosse digna de um Nobel de Economia. O que alguns estudos têm mostrado, no entanto, é que os investimentos em pesquisa e inovação, bem como no lançamento de novos produtos, têm sido estratégias mandatórias para as grandes empresas. Já quanto às PMEs brasileiras, uma análise dos pedidos de patentes depositados no Instituto Nacional da Proteção Intelectual (INPI) entre 2006 e 2011, mostra que o número de pedidos relacionados a produtos cosméticos tem declinado a cada ano.

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Outro dado do levantamento é que mais de 56% dos pedidos pertencem a depositantes de outros países. Embora os dados de patentes não reflitam diretamente o lançamento de novos produtos no mercado, certamente são indicativos da capacidade inventiva das PMEs brasileiras. E neste aspecto, os dados da mais recente Pesquisa de Inovação Tecnológica (PINTEC) publicada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) corroboram as informações obtidas com as patentes, ou seja, a indústria brasileira de HPPC investe muito pouco em atividades de inovação tecnológica.

Opinião do autor: Conforme resumido pelo presidente da ABIHPEC, João Carlos Basílio da Silva, o baixo investimento em inovação por parte das PMEs de HPPC é contraposto por um modelo de negócios no qual estas empresas contratam a exclusividade de uso de matérias-primas de ponta (muitas vezes, importadas) junto aos seus fornecedores. Desse modo, as PMEs podem elaborar apelos de mercado diferenciados e competitivos para os seus lançamentos. Porém, com as empresas farmacêuticas inserindo-se no setor de HPPC, com o aumento da participação dos produtos importados e com a chegada de mais multinacionais ao Brasil, certamente, a viabilidade deste modelo de negócios será desafiada. O mercado de HPPC no Brasil continuará sendo bastante promissor, inclusive para as PMEs, mas os cenários provavelmente serão mais favoráveis para aquelas empresas com maior flexibilidade de inovação. Em outras palavras, as PMEs precisam buscar novos modelos de negócios e novos meios de garantir o lançamento de produtos que atendam às expectativas dos consumidores.

Por Ivan Souza

Coordenador de Conteúdo. Farmacêutico Industrial pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). MBA em Gestão Empresarial (UEM). Doutor em Ciências pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo (USP). Experiência em pesquisa e desenvolvimento de inovações no setor cosmético e farmacêutico.