É muito comum as pessoas perguntarem o que é caspa e como trata-la. Se há tantos produtos disponíveis no mercado para tratar a caspa, por que tanta gente reclama disso, especialmente nos meses de inverno?
Um mal que afeta cerca de 3% da população adulta. Os homens são frequentemente mais afetados que as mulheres em todas as faixas etárias, o que pode estar associado à ação dos hormônios androgênios.
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Afinal, o que é caspa?
A caspa é uma afecção do couro cabeludo que se caracteriza pela descamação excessiva do estrato córneo (a camada mais externa da pele) por meio da ação de leveduras lipofílicas do gênero Malassezia (antigamente chamada de Pityrosporum ovale).
As leveduras do gênero Malassezia estão naturalmente presentes em diferentes regiões da pele, como nas sobrancelhas, nos pés e no couro cabeludo. Apesar da alta prevalência, a patogênese da caspa ainda não é muito bem compreendida cientificamente. A maioria dos estudos aponta para três fatores principais para o surgimento da caspa: o crescimento da levedura Malassezia, a atividade das glândulas sebáceas e a susceptibilidade individual.
Na maioria dos indivíduos adultos, as leveduras Malassezia podem permanecer sem causar qualquer problema, mas em certas situações cujas circunstâncias sejam propícias ao seu desenvolvimento, essa levedura pode crescer descontroladamente, alimentando-se do sebo secretado pelas glândulas sebáceas associadas aos folículos pilosos e assim causar a irritação que promove o aumento na proliferação das células da epiderme e que resultam na descamação – o principal sintoma da caspa. Como já mencionado, as causas desse crescimento descontrolado ainda não são totalmente conhecidas, mas é importante destacar que a lavagem insuficiente dos cabelos ou com produtos inadequados podem contribuir para o desenvolvimento da caspa.
Os sintomas da caspa são descamação, formação de placas, eritema (vermelhidão no couro cabeludo), prurido (coceira) e em alguns casos até quebra e queda dos cabelos. As áreas mais afetadas são a região frontal (principalmente a zona T da face) e as regiões atrás das orelhas abaixo da linha dos cabelos, mas outras partes da cabeça também podem ser igualmente afetadas.
Tratamentos clássicos (e cosméticos) da caspa
Os casos mais simples são facilmente controlados com a lavagem diária com xampus suaves com ou sem agentes anticaspa. Os casos crônicos requerem tratamento contínuo e acompanhamento de médico dermatológico para prevenir o reaparecimento da caspa logo após o fim do tratamento. É importante que as pessoas com tendência à caspa nunca deixem de usar produtos para controlar o crescimento das leveduras do gênero Malassezia ou de controlar a oleosidade do couro cabeludo, o principal estímulo para sua proliferação excessiva.
Os tratamentos anticaspa mais comuns são shampoos com agentes anticaspa ou que controlem a oleosidade do couro cabeludo. Outra apresentação bastante eficaz são tônicos ou loções anticaspa para serem aplicados diretamente no couro cabeludo limpo.
Os agentes anticaspa mais utilizados são:
- Antifungicos: piroctone olamine (Piroctone Olamine), piritionato de zinco (Zinc Pirithione) e climbazol (Climbazole).
- Queratolíticos: ácido salicílico (Salicylic Acid) e enxofre (Sulfur).
- Controladores de oleosidade: óxido de zinco, PCA Zinco (Zinc PCA) e outros derivados de zinco.
Os agentes antifúngicos ajudam a conter o crescimento e proliferação das leveduras Malassezia. Os agentes queratolíticos têm a função nobre de eliminar as placas e reduzir a descamação excessiva. Os controladores de oleosidade, ajudam a equilibrar a oleosidade no couro cabeludo, reduzindo a disponibilidade de alimento para as leveduras e, consequentemente, controlando a população de Malassezia.
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Além desses agentes, a maioria dos produtos cosméticos anticaspa contém mentol (Menthol) para dar sensação de refrescância, muito associada à ação dos produtos. No entanto, não há qualquer relação do sensorial de refrescância com a eficácia anticaspa. Além do que algumas pessoas podem apresentar sensibilidade ao mentol e é comum os formuladores exagerarem na concentração desse ingrediente, então pode não ser a melhor alternativa.
Nem toda descamação é caspa
Muitas pessoas acham que só porque estão com descamação, então estão com caspa. Mas não é assim tão simples. Algumas outras condições podem causar descamação, mas a caspa propriamente dita é apenas a descamação ocasionada pelas leveduras Malassezia. Veja abaixo outros fatores para descamação e que não podem ser caracterizados como caspa:
- Pele seca: é a causa mais comum de prurido e descamação, mas os flocos formados pela descamação da pele seca são geralmente menores e menos oleosos que os causados pela caspa.
- Dermatite seborreica: é uma condição frequentemente associada à caspa e muito semelhante. É caracterizada por vermelhidão e oleosidade na pele e flocos brancos ou amarelados. Ela afeta todas as áreas ricas em glândulas sebáceas como as sobrancelhas, as laterais do nariz, as regiões atrás das orelhas, o tórax, as virilhas e as axilas.
- Psoríase: é uma doença cutânea psicodermatológica causa acúmulo de células mortas, principalmente nos joelhos, cotovelos e tronco, mas também pode afetar o couro cabeludo, deixando flocos espessos e irritação local.
- Dermatite de contato: algumas vezes a sensibilidade a certos produtos cosméticos capilares ou corantes pode causar eritema (vermelhidão), prurido e descamação no couro cabeludo.
- Build-up: é o acúmulo de produtos nos cabelos que pode se desprender os cabelos, sendo confundido com caspa ou até ocasionar indiretamente a uma dermatite no couro cabeludo com consequente descamação. Veja esse texto específico sobre build-up e também um texto sobre co-wash, uma técnica que se for mal utilizada é um grande fator causador de build-up e dermatites.
Referências:
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Texto publicado originalmente em 30/05/2016. Revisado periodicamente.