O Verde é o novo Preto, mas maqueado de verde mesmo

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Sabe aquela amiga que sempre que você encontra está usando todo tipo de maquiagem possível e você sempre se pergunta como ela arruma tempo pra se maquiar todos os dias, às vezes até mais de uma vez ao dia? Isso provavelmente é um talento que nasce com algumas pessoas… então, não se sinta mal se você não conseguir acompanhar o ritmo daquela amiga. E com certeza você se sentirá triunfante quando finalmente encontrá-la sem a maquiagem e perceber que você, na verdade, não a conhecia ! Sim, como todo ser humano, um dia aquela amiga vai falhar e você vai saber como ela é ‘na real’ !

De um modo muito semelhante, algumas empresas, que são feitas de pessoas, desenvolvem o hábito de se maquiar, maquiar os seus projetos e receitas e, ocasionalmente, depois de um dia ruim, esquecem do ritual e saem nas ruas (ou nas notícias !) com a cara limpa. A diferença entre essas empresas e aquela amiga, é que tais empresas normalmente tem muito mais dinheiro para investir na reconstrução da imagem que foi quebrada.

Bem-vindos à Era do Greenwash ! O Lavado Ecológico é uma prática deliberada de publicidade que busca promover iniciativas e projetos de ordem verde, ambientalmente corretos, em benefício de uma empresa, governo ou indústria, com o propósito de melhorar a percepção pública a respeito do beneficiado, enquanto, na realidade, tal organismo opera de uma maneira que é prejudicial ao meio ambiente.

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Exemplos de selos verdes.
Foto: Reprodução EHP.

Nos últimos anos, a indústria cosmética mundial observou um crescimento acelerado no número de ‘selos verdes’ e ‘certificações’ que visam destacar as empresas que atuam segundo algum tipo de padrão de sustentabilidade e responsabilidade social (relembre a definição de sustentabilidade aqui!). Um dos problemas é que hoje há tantos tipos de selos e critérios diferentes que fica difícil para o consumidor saber quais selos realmente são sérios e se os critérios para a obtenção desses selos proporcionam, de fato, alguma forma eficaz de proteção ao meio ambiente.

Além disso, algumas dessas organizações que certificam as campanhas sustentáveis de empresas de bens de consumo foram envolvidas em escândalos de corrupção (leia mais aqui e aqui também!). Por exemplo, a RSPO (do inglês, Mesa-Redonda sobre o Óleo de Palma Sustentável) tem recebido diversas críticas e acusações por falhas em sua política de certificação e pela prática corrupta de alguns de seus certificadores que atuam de modo criminoso tortuoso (mais uma vez, são pessoas sujeitas a falhas…).

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Ao menor sinal de Greenwash, reflita e pesquise!
Fonte: Reprodução Groengele Spons.

Obviamente, nem toda empresa pratica o greenwash. Mas é muito difícil para o consumidor distinguir aquelas que são sérias daquelas que querem lhe enganar com uma maquiagem verde. Em parte, porque muito do que há de podre nessas empresas jamais chega ao conhecimento público. Em outra parte, porque essas organizações são tão poderosas que conseguem facilmente manipular a mídia e a percepção dos consumidores quando, eventualmente, alguma informação se torna pública. De qualquer forma, a solução para o problema depende das empresas, do governo e também de nós, consumidores… Mas assim caminha a humanidade…

Referências:
Bouwer & Trein. Groengele Spons – Greenwash. 28 jan. 2016.
The Guardian. 28 jan. 2016.

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Por Ivan Souza

Coordenador de Conteúdo. Farmacêutico Industrial pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). MBA em Gestão Empresarial (UEM). Doutor em Ciências pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo (USP). Experiência em pesquisa e desenvolvimento de inovações no setor cosmético e farmacêutico.