Opinião sobre o 29° Congresso Brasileiro de Cosmetologia

publicado

Houve um tempo em que se dizia que as mulheres deveriam ser bonitas aos olhos dos homens. Faíscas débeis de liberdade surgiram quando disseram que as mulheres eram motivadas a serem mais bonitas que as outras mulheres. Tempos incríveis tomaram lugar ao descobrirmos que mulheres podem ser bonitas (ou não) para si mesmas.

Aconteceu em São Paulo, entre os dias 10 e 12 de Maio de 2016, o 29º Congresso Brasileiro de Cosmetologia, quando holofotes foram lançados sobre temas bastante relevantes e tão em voga atualmente. O primeiro deles: o empoderamento feminino. Duas figuras públicas engajadas ao tema foram citadas: a youtuber Jout Jout, que já havia abordado o assunto em Fevereiro de 2015 e também Clarice Falcão, que já tinha sinalizado a importância de se conversar sobre isso há 6 meses em sua versão de “Survivor. O que ambos os vídeos têm em comum? A força, a liberdade de ser o que quiser, a não submissão ao que ou a quem quer que seja… E O BATOM VERMELHO!

As mulheres encontraram nesta cor de batom uma bela forma de manifestação, nada recatada e aplicável ao lar, ao bar ou ao mundo. Ao cobrirem seus lábios com tons de vermelho, as mulheres têm conseguido mostrar que não existe hora ou ocasião que proíba tal ousadia: elas o farão quando quiserem! Foi a forma mais graciosa de revelar que convenções sociais podem ser subvertidas. De maneira pacífica, colorida e agradável aos olhos, fizeram do nosso material de trabalho o ícone de um movimento, assim como os sutiãs o foram nos anos 60.

Anúncio
Michel Alcoforado, da Consumoteca, durante o 29° Congresso Brasileiro de Cosmetologia

Tendo como base que esse momento social pelo qual passam as mulheres, os homens estão mais preocupados com sua imagem compatível, o número de idosos está crescendo no mundo todo e tantos outros contextos nos quais estamos inseridos, tanto Michel Alcoforado (Consumoteca) quanto Renato Meirelles (Data Popular) e Gustavo Dieamant (Grupo Boticário) ressaltaram a necessidade de se conhecer o consumidor e aquilo que o afeta, pois é fundamental que se entenda que o consumidor é parte efetiva do processo de inovação.

E como entender quais os efeitos dos produtos na percepção do consumidor? O palestrante Rodrigo Toni (Perception) trouxe para a conversa o neuromarketing e algumas das estratégias utilizadas para avaliar a interação entre o consumidor e o produto, tais como que emoções ele sente a partir de determinados estímulos, quais estímulos chamam mais sua atenção e até mesmo o que o atrai quando colocado em prateleiras.

Gustavo Dieamant, do Grupo Boticário, no 29° Congresso Brasileiro de Cosmetologia

Por fim, um assunto já abordado na edição anterior do evento e que felizmente também fez parte da edição deste ano através da palestra de María Luisa Pérez (Universidad Autónoma Metropolitana – México) foi o papel social dos cosméticos. Neste caso, a palestrante falou sobre os cosméticos relacionados à higiene pessoal em processos de adoção de crianças. Embora tão óbvia e básica seja a relação entre os assuntos, pela reação das pessoas presentes foi possível notar que muitas delas nunca se atentaram a isso.

Anúncio
María Luisa Pérez, da Universidad Autónoma Metropolitana do México, no 29° Congresso Brasileiro de Cosmetologia

Esta semana descobrimos que o Brasil é destaque mundial em pesquisa sobre cosméticos, segundo o relatório State of Innovation 2016 da Thomson Reuters. Exatamente por isso, temos que gastar energia em muito mais que conversas rasas sobre ativos ou cosméticos de luxo. É nossa responsabilidade discutir o impacto social dos cosméticos que produzimos. É nossa responsabilidade entender o contexto no qual os cosméticos estão inseridos. Como, muito sabiamente, disse Michel Alcoforado: “cultura são os óculos que usamos para enxergar o mundo”. É preciso que nos preocupemos com tudo isso para, então, preocuparmo-nos com os produtos colocados no mercado. E que estes produtos sejam faíscas para causas maiores, e não meras futilidades ou apenas “mais do mesmo”.

O Cosmética em Foco parabeniza a Associação Brasileira de Cosmetologia por tirar o Congresso Brasileiro de Cosmetologia do lugar comum e iluminar questões tão relevantes para aqueles que trabalham com cosméticos: nossos produtos são ferramentas para exteriorizar processos tão intrínsecos à sociedade. Além de todo o conhecimento que devemos adquirir sobre o universo químico das formulações, é preciso entender o ser humano.

Por Gisely Spósito

Redatora. Farmacêutica-Bioquímica, Mestre em Ciências Farmacêuticas e Doutora em Ciências Farmacêuticas, especificamente em Medicamentos e Cosméticos pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP-USP). Tem experiência em Tecnologia de Cosméticos, do desenvolvimento à análise sensorial.

3 comentários

  1. Gisely… Você pode falar mais sobre a questão da adoção e higiene pessoal?! Este assunto me
    interessa e não parece tão óbvio pra mim! Obrigado!

    1. Claro que sim, Ivan! Especialmente enquanto éramos crianças, hábitos de higiene nos foram ensinados, enquanto a nossa principal preocupação era a diversão. Isso não é diferente nos orfanatos. Quer dizer, na verdade é um pouco diferente sim.. pois são muitas crianças juntas e muitas vezes os recursos são limitados. No dia em que os adultos interessados em adotar crianças vão conhecê-las eles se preocupam, além de outros fatores, também com a aparência. Não é muito difícil alcançar o senso comum de que uma criança adequadamente arrumada (limpinha e bem vestida) teria maiores chances de ser adotada em detrimento daquelas que brincaram o dia todo e não tomaram banho antes da visita por exemplo. E como lidar com esta expectativa dos adultos em um lugar com poucos cuidadores, muitas crianças, hábitos de higiene inadequados, recursos limitados, etc? Esta é apenas uma das questões básicas que relaciona produtos cosméticos às questões sociais. Podemos falar mais sobre isso em breve! 🙂 Obrigada pelo interesse!

Comentários estão encerrados.