Pós Adsorventes

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Os pós com capacidade de adsorção utilizados em formulações cosméticas são bastante diferentes, versáteis e contribuem muito para a melhoria do produto. Alguns pós são utilizados para melhorar a textura. Outros facilitam a incorporação de fragrância e eventuais líquidos em um produto sólido. Também é possível melhorar a estabilidade de uma emulsão. E há inclusive os pós ativos, capazes de atribuir um apelo comercial ao produto. Enfim, existem muitas possibilidades ao formular com pós adsorventes, então vamos discutir algumas aplicações e exemplos.

Pós adsorventes são muito comuns em maquiagens, mas também encontram aplicações em outros tipos de cosméticos.
Foto: keakguru / FreeDigitalPhotos.net

Texturizantes

Pós texturizantes conseguem alterar o aspecto sensorial de um produto e podem ser benéficos nas mais variadas formas cosméticas, especialmente em emulsões (bases, loções e cremes), bastões (batom, antiperspirante etc.) e pós cosméticos (sombras, talcos etc.). Ao adsorver óleos ou umidade da pele e da própria formulação, os texturizantes contribuem para uma diferenciação da textura, mas o maior efeito destes pós está intrinsicamente relacionado ao sentido do tato.

Quando um creme com texturizante é aplicado sobre a pele ou cabelos, parte do creme vai evaporar ou ser absorvida, mas os pós se depositam na superfície formando uma camada que altera a sensação percebida pelos nossos dedos durante o toque. Os sensores de pressão presente nas nossas mãos agora percebem primeiramente a superfície do pó, que tem um relevo diferente da pele e dos cabelos, estejam secos ou hidratados, resultando numa textura especial. Tal sensação depende das caraterísticas da superfície do pó, por exemplo, partículas de sílica (INCI: silica), nylon (INCI: nylon-#) ou polimetilmetacrilato – PMMA (INCI: polymethyl methacrylate), são esferas micronizadas que facilitam o deslize das mãos sobre a pele/os fios. Já amidos, como a tapioca e outros similares, são pós mais irregulares e podem proporcionar uma sensação aveludada. É interessante pensar que inovações em textura possam surgir da aplicação de pós com diferentes geometrias e durezas…

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A sílica, e outras partículas esféricas, se distribuem sobre a superfície da pele ou dos cabelos facilitando o deslizamento dos dedos, o que proporciona um sensorial diferenciado.
Foto: graur codrin / FreeDigitalPhotos.net

Adsorventes de líquidos

Às vezes os formuladores precisam incorporar líquidos como fragrâncias, emolientes, extratos vegetais ou conservantes em uma formulação sólida (ex.: batons, sombras, xampu seco e outros pós). Convém misturar previamente os líquidos com pós adsorventes, possibilitando uma distribuição mais uniforme desses líquidos pela fórmula, além de evitar a separação de fases ‘líquido – demais pós’ e retardar a perda por evaporação de fragrâncias e outros compostos voláteis.

De um lado, temos pós hidrofílicos ou adsorventes de água e outros líquidos mais polares, por exemplo: talco (INCI: talc); sal (INCI: sodium chloride); caolim (INCI: kaolin); sílica; sílica fundida (INCI: fumed silica); outros silicatos de alumínio (INCI: aluminum silicate, magnesium aluminum silicate, bentonite); terra de diatomáceas (INCI: solum diatomeae); perlita (INCI: perlite); amidos (INCI: starch), celulose (INCI: cellulose) e outras fibras vegetais.

Por outro lado, temos também pós lipofílicos ou adsorventes de óleos, fragrâncias e líquidos mais apolares, por exemplo: carbonato de cálcio (INCI: calcium carbonate); carbonato de magnésio (INCI: magnesium carbonate); óxido de zinco (INCI: zinc oxide); dióxido de titânio (INCI: titanium dioxide); sílica; sílica fundida (INCI: fumed silica); zeolita (INCI: zeolite) e amidos modificados (ex.: aluminum starch octenylsuccinate).

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Se formulados adequadamente, pós adsorventes podem auxiliar no controle do brilho e oleosidade da pele, inclusive melhorando a fixação da maquiagem.
Foto: marin / FreeDigitalPhotos.net

Vale ressaltar que esses pós vão adsorver água e óleos tanto da formulação quanto da pele e dos cabelos, o que pode ser interessante ou não, dependendo da função do produto. Uma adsorção intensiva não é recomendada, pois desidrata e pode resultar em um sensorial desagradável. Logo, é preciso encontrar a quantidade certa de adsorvente para cada caso.

Estabilizantes

Particularmente no caso de emulsões, o emprego de pós adsorventes pode contribuir para melhorar a estabilidade. Alguns pós tendem a acumular na superfície das microgotículas dispersas numa emulsão, formando uma camada que aumenta a tensão interfacial e retarda a coalescência, isto é, a colisão dessas microgotículas. Obviamente, para que isso aconteça os pós devem ter um tamanho de partícula menor que o da microgotícula dispersa. Pós hidrofílicos melhoram a estabilidade de uma emulsão óleo em água, ao passo que pós lipofílicos podem ser úteis em emulsões água em óleo. Os pós mais comuns para esta aplicação são a sílica, a bentonita e os diversos tipos de silicato de alumínio e magnésio.

Alguns pós com tamanho de partícula diminuto se acumulam na interface entre as duas fases de uma emulsão e contribuem para a estabilidade.
Foto: Stuart Miles / FreeDigitalPhotos.net

Pós ativos

Finalmente, alguns pós adsorventes são tão eficazes que permitem atribuir um apelo de incentivo à venda do produto. A sílica, por exemplo, é comumente usada em produtos que se destinam a remover o excesso de oleosidade da pele, do couro cabeludo e dos cabelos. Já a zeolita tem uma afinidade tão grande pela água, que ao adsorvê-la libera energia na forma de calor. Se formulados adequadamente, produtos com zeolita proporcionam uma sensação agradável de aquecimento na pele, o que é interessante em linhas para spas e massagens.

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Referências:

BUTLER, H. Poucher’s Perfumes, Cosmetics and Soaps. 10th. ed. Kluwer Academic: Dordrecht – NL, 2000.

LEVITSKIJ, E. A. et al. “Chemical Heat Accumulators”: A new approach to accumulating low potential heat. Solar Energy Materials and Solar Cells, v. 44, n. 3, p. 219-235, nov. 1996.

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STRZEMIECKA, B. et al. Examination of zeolites as fragrance carriers. Microporous and Mesoporous Materials, v. 161, p. 106–114, out. 2012.

Por Ivan Souza

Coordenador de Conteúdo. Farmacêutico Industrial pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). MBA em Gestão Empresarial (UEM). Doutor em Ciências pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo (USP). Experiência em pesquisa e desenvolvimento de inovações no setor cosmético e farmacêutico.