Preservantes cosméticos – Atualização

publicado

Há alguns dias eu já vinha pensando no que postar para voltar a atualizar o Blog site após o período de turbulência pelo qual passei recentemente. Não conseguia encontrar um tema que fosse importante o suficiente para justificar todo o tempo sem postar. Nesses últimos meses, continuei a responder os e-mails, prestei algumas consultorias no desenvolvimento de produtos e continuei acompanhando o movimento do site. Eis que há poucos dias literalmente caiu em minha mesa a solução das minhas dúvidas: uma revista norte-americana (site em inglês) que continha um artigo completo sobre o uso de preservantes cosméticos. Manter-se atualizado não é simples e nem rápido, mas é uma atitude disciplinar muito gratificante a qual sempre tive muito prazer em exercitar. Eis aqui o resultado dessa fantástica leitura. Aproveitem e lembrem-se: está longe de se escrever um material definitivo sobre o assunto.

Placa com colônia de E. coli.
Foto: GettyImages / Divulgação.

O mercado de preservantes

Em Janeiro de 2008, cinco pacientes de um hospital em Barcelona foram infectados pela bactéria Burkholderia cepacia, encontrada em um leite hidratante utilizado em seus tratamentos após a higienização. Os investigadores descobriram que os produtos foram contaminados por ineficácia do sistema conservante.

A maior dificuldade no mercado de preservantes é a grande falta de informação do formulador no momento da escolha do sistema conservante apropriado e dos consumidores no momento da escolha de seus produtos. Os apelos de marketing são ótimos para alavancar vendas, se estiverem apoiados em testes de segurança e eficácia do sistema conservante por meio do teste de desafio (Challenge Test) em novas fórmulas. Os formuladores devem exigir de seus fornecedores o Challenge Test em laboratórios confiáveis antes de utilizar um novo sistema conservante em seus produtos.

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Infelizmente foi necessário um acontecimento como esse para que as indústrias e ONGs repensassem o apelo “livre de conservantes” (preservative-free). Apesar dos constantes ataques aos tradicionais parabenos, doadores de formaldeído e isotiazolinonas, a maioria dos formuladores sérios é resistente quanto à mudança do sistema conservante, por preocuparem-se com a segurança e eficácia dessa importante parte da composição do produto.
Paralelamente, não há perspectivas de novas moléculas, pois os custos de pesquisa e desenvolvimento são elevados e, mesmo que se descubra um novo sistema e ele seja aprovado, as ONGs e associações civis o atacarão com críticas e receios. Por essa razão pouquíssimas empresas têm se dedicado a pesquisar novos preservantes para cosméticos.

Os consumidores enxergam a luz no fim do túnel?

A confusão dos consumidores sobre os conservantes continua a impactar negativamente na indústria cosmética.

Embalagens de produtos cosméticos.
Foto: GettyImages / Divulgação.

Há muita informação não verídica sendo difundida e rumores sobre riscos e segurança de conservantes, levando o consumidor a se sentir cada vez menos confiante a respeito do que acreditar ou comprar. Muitos preservantes já conhecidos e investigados como os parabenos estão sob constante ataque e alguns formuladores tentam substituir essas substâncias por outras com apelos “naturais (green)” ou “livre de conservantes (preservative-free)”, mas que ainda não tem seus efeitos amplamente conhecidos.

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Como as notícias ruins se movimentam com mais rapidez no espaço, quanto pior a informação, seja ela precisa ou não, pior será a visão do consumidor e as indústrias serão influenciadas a mudar suas formulações. A mesma fonte de má informação será responsável por sensibilizar os fiscalizadores, forçando-os a estreitar as regulamentações. E então os consumidores enxergam isso como mais uma evidência para evitar certas matérias-primas.

Os apelos mais procurados para os conservantes “sem controvérsias” são: livre de parabenos (paraben-free), sem formaldeído (non-formaldehyde releasing), sem iodopropilbutilcarbamato (non-IPBC) e sem isotiazolinona (non-isothiazolinone).

Os regulatórios e a criatividade científica

Os poucos fabricantes que se aventuram no desenvolvimento de realmente novos sistemas conservantes se queixam dos órgãos fiscalizadores dos diferentes países, pois nos Estados Unidos, por exemplo, não há uma lista positiva para preservantes, enquanto na Europa, Japão e Brasil existe, tornando difícil a inserção de novas moléculas mundialmente aprovadas.

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A metildibromoglutaronitrila não é permitida na União Europeia (UE) desde março de 2008 e os produtos que a continham foram retirados das prateleiras europeias até 23 de junho de 2008.

O ácido benzóico também sofreu retaliações e teve a aprovação de seu uso modificada. Ele só pode ser utlizado em produtos enxaguáveis a 2,5% ou menos, em produtos para higiene bucal a no máximo 1,7%, e em produtos leave-on a um teor máximo de 0,5%. Os seus sais, como o benzoato de sódio e metil benzoato, só podem ser usados a 0,5% ou menos em quaisquer produtos cosméticos.

O iodopropinil butilcarmabato (IPBC) não pode ser utilizado em produtos orais ou labiais, ou em produtos infantis (para crianças de até 3 anos), exceto nos destinados ao banho e enxaguáveis. Na verdade, se for utilizado em outros produtos, deve conter o aviso no rótulo: “não utilizar em crianças abaixo de três anos de idade”. O IPBC também não deve ser usado em cremes e loções que serão aplicados em grandes partes do corpo. De qualquer forma, ele pode ser usado em aplicações enxaguáveis até 0,02%, em produtos leave-on até 0,01% e em antiperspirantes ou desodorantes até 0,0075%.

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Em fevereiro, a Colipa propôs estudos farmacocinéticos para avaliar a absorção, distribuição e eliminação de doses orais de metil, propil e butil parabenos em ratos. Dois outros estudos examinarão a sua trajetória em aplicações dérmicas e subcutâneas. Todos esses estudos buscam respostas para questões levantadas e trazer uma informação segura acerca dos parabenos.

Seus cosméticos estão protegidos de fungos e bactérias?
Foto: GettyImages / Divulgação.

Mais ataques

Ainda que os parabenos sejam os campeões nos ataques, outros conservantes também são alvos frequentes, tais como o fenoxietanol e o formaldeído.

A intenção em banir o fenoxietanol na Europa é bastante preocupante, visto que ele atua muito bem e é frequentemente utilizado. Somando-se a isso a repulsa aos parabenos e a aversão ao uso do formaldeído pelos formuladores, o resultado é uma pane na conservação dos produtos cosméticos que estão incorporando cada vez mais ingredientes propensos à contaminação microbiana, como as proteínas e extratos naturais.

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Para defender a indústria, os membros da CPC (Cancer Prevention Coalition), que pertencem a diferentes indústrias cosméticas, estão se unindo para defender os preservantes das restrições e proibições regulatórias.

O mesmo grupo vem tentando mudar o INCI name do formaldeído para Methylene Glycol, para diminuir a pressão sobre a molécula, já que outros órgãos não regulamentam o uso do metilenoglicol, apenas do formaldeído gasoso – que é bem diferente do formaldeído utilizado como conservante em cosméticos e domissanitários.

Ainda há muito o que se falar sobre os preservantes cosméticos, mas a cada post aprofundaremos um pouco mais a nossa visão e poderemos, no mínimo, ter mais informação para selecionar quais sistemas utilizar ou quais produtos e apelos de marketing comprar ou não.

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Opinião do autor: Tendo em vista a importância e o interesse nesse tema é que resolvi retomar o Blog com esse post em que, finalmente, eu consigo o que queria desde o início: apresentar um panorama sobre os preservantes, ou conservantes, utilizados (e aprovados) para uso cosmético. Convém ressaltar a importância em se conhecer a legislação para o país em que se pretende comercializar o produto, pois há divergências que podem impedir que seu produto seja vendido lá fora. O grande terror para os exportadores é conseguir conciliar as legislações da Europa, dos Estados Unidos, e do Japão. No Brasil, temos a vantagem se estarmos muito próximos da legislação europeia. Há que se avaliar com cautela, pois as mudanças propostas na Europa com a REACH ainda causarão muitas mudanças no mercado mundial de cosméticos.

Fonte: BRANNA, T. Preservative Market Update. Household and Personal Products Industry, vol. 45, no. 5, p.109-128, May, 2008.

Atualizado em 17 de janeiro de 2016.

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Por Gustavo Boaventura

Criador e Diretor de Conteúdo. Farmacêutico Industrial pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Especialista em Pesquisa & Desenvolvimento de Produtos Cosméticos. Mestre em Comunicação pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) com foco no consumo de cosméticos masculinos. Bacharel em Administração pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas). Experiência em Pesquisa & Desenvolvimento de produtos capilares. É o idealizador e criador do Cosmética em Foco e escreve desde 2007.

17 comentários

  1. Infelizmente, o marketing aprendeu muito mais rapidamente como se comunicar com o consumidor, gerando desejos de compra e apelando para os sentidos. Minha pergunta é, quando teremos a mesma eficiência em informações realmente necessárias sobre as formulações seguras? Porque não se editam cartilhas com uma relação de ingredientes nocivos e os permitidos e se distribui amplamente nos pontos-de-venda? É claro que muitas indústrias não devem ter interesse nisso, mas órgãos de defesa do consumidor deveriam ser os primeiros a preocuparem-se em fazer isso.

  2. Gustavo

    Sou apicultora, e acadêmica em Biologia e me atrevi a desenvolver uma linha de cosméticos com mel, cera de abelhas e própolis. minhas formulações são bem aceitas pelas pessoas ,até então testadas e meu fornecedor me indicou um conservante chamado MICROCARE ITO, embora não tenha utilizado ainda, gostaria de saber sua opnião , pois futuramente pretendo exportar meus cosméticos,e este preservante garante uma stabilidade ao produto de até 3 anos, o que vc diz?
    Nancy Lins
    Maracanaú -Ce

  3. Nancy, como você não deixou e-mail para resposta, respondi aqui a sua dúvida: O Microcare ITO é um excelente conservante para produtos cosméticos enxagüáveis e que não terão contato com mucosas. Por favor, não extenda o uso desse produto a alimentos. Você pode formular uma quantidade e submeter a amostra ao Challenge Test para saber qual será o resultado, sugiro também submeter uma amostra do seu produto atual e saber qual a susceptibilidade dele à contaminação. Se ainda tiver alguma dúvida, escreve diretamente ao meu e-mail disponível no site. Muito obrigado pela visita e volte sempre!

  4. Bom dia Gustavo,
    Só agora conheci seu blog e gostei muito do seu texto. Sou farmaceutica também e trabalho com cosméticos. Estou com dificuldade na escolha de conservantes, visto que os produtos que trabalho são para profissionais cabelereiros e usamos um blend com fenoxietanol… Você conhece alguma cartilha que tenha essas informações para os diversos continentes???
    Luciana
    luciana@cadiveu.com

  5. Muito interessante a abordagem desse assunto,afinal “conservantes”ainda é um assunto muito polemico q necessita de muitos esclarecimentos ainda!Já q estamos falando de conservante gostaria de uma informaçao:O Irgasan q atua como conservante e antisséptico,é permitido seu uso em formulaçoes para bebe? Tambem posso utilizar um apelo de antisséptico p
    para o mesmo?
    danygoi@yahoo.com.br

  6. Daniele,
    de acordo com a RDC 162/01 da Anvisa, o triclosan pode ser usado em um percentual máximo de 0,3% como agente conservante. Agora, para usar o apelo antisséptico você precisará realizar estudo de eficácia para comprovar essa ação. Note que em ambos os casos o produto figurará como sendo Grau de Risco 2, por ser indicado para bebês e por ser antisséptico.

  7. Bom dia, o fenoxietanol e glutaradeildo são proibidos no uso cosmetico? qual percentagem pode ser usada? são cancerigenos? ao serem vaporizados se transformam em substancia agressiva? nossa…nos que trabalhamos com cosmetica nao temos essas respostas dos representantes das marcas…quanta duvida…
    obrigada
    sheila
    cult.ms@gmail.com

  8. Meu nome é Andrea trabalho no ramo de cabelos gostaria de saber se fenoxietanol é proibido na area da comestica capilar trabalho com redutor de volume e tem esse fenoxietanol,porfavor responda minha pergunta ,obrigada.

  9. Andrea, o fenoxietanol não só é permitido para uso como é um dos conservantes mais utilizados atualmente em associação com vários outros devido a sua alta compatibilidade e baixa irritabilidade.

  10. Boa tarde Gustavo, sou cabeleireira e só agora conheci seu blog e gostei muito do seu texto. Estou diante de um impasse. Sei que o formoldeído e o fenoxietanol são conservantes. mas muitas industrias, (impresas de cométicos) vem nos oferecendo produtos tendo estes dois ( e muitos outros derivados do formol) como principio ativo de escovas para reduzir ou alisar cabelos. Sei também que derivados do formoldeído são produtos proibidos pela anvisa. E o fenoxietanol ele pode ser usado como selante ou redutor de volume dos cabelos? você poderia me explicar como realmente o formol age no fio de cabelo e porque eele está proibido? e o fenoxietanol? Li um comentario mandado pela Sheila no dia 29 de abril de 2009 e também são dúvidas minhas. Gustavo, se possivel responda para o e-mail silviadeniculi@yahoo.com.br desde já agradeço. Silvia H. Denículi

  11. Bom dia Gustavo, gostaria que me informasse:O Fenoxienol ele pode ser usado como selante ou redutor de volumes? e se não está proibido, qual o percentual que posso usar? Obrigado.Zélia

  12. Olá, Gustavo!!
    Sou a Kelly, OHair Style…gostaria que vc falasse para mim, qual o conservante que eu poderia trabalhar com tranquildade e seguro para não prejudicar eu e nem minhas clientes…não trabalho com formol e nem pretendo…porém tenho medo de comprar com fornecedores que na verdade mentem que a ação química não contém formol e outros componentes próibidos pela anvisa. É uma dúvida e medo que todas as pessoas que trabalham na mesma profissão que a minha tem. Fico agradecida desde já…obrigada e sucesso..aguardo a sua resposta.

  13. Kelly, parabéns por se preocupar com a sua saúde e de suas clientes. É de profissionais assim que precisamos!

    E mais importante é conhecer o fornecedor e só comprar produtos que tenham sido registrados na Anvisa, de preferência de marcas nas quais você confie. Você pode também, fazer um teste simples: abrir o produto e cheirar, se os seus olhos arderem ou se encherem de lágrimas, melhor não comprar o produto.

    Me falaram que existe uma fita que você coloca no produto e ela detecta a presença de formol. Eu nunca vi, mas estou procurando para escrever sobre ela aqui.

    Muito obrigado por ler e comentar, são vocêm que me estimulam a continuar driblando o tempo e escrevendo.

    Abçs,

    Gustavo.

  14. Boa tarde Gustavo, sou cabeleireira e só agora conheci seu blog e gostei muito do seu texto. Estou diante de um impasse. Sei que o formoldeído e o fenoxietanol são conservantes. mas muitas industrias, (impresas de cométicos) vem nos oferecendo produtos tendo estes dois ( e muitos outros derivados do formol) como principio ativo de escovas para reduzir ou alisar cabelos. Sei também que derivados do formoldeído são produtos proibidos pela anvisa. E o fenoxietanol ele pode ser usado como selante ou redutor de volume dos cabelos? você poderia me explicar como realmente o formol age no fio de cabelo e porque eele está proibido? e o fenoxietanol? Li um comentario mandado pela Sheila no dia 29 de abril de 2009 e também são dúvidas minhas. Gustavo, se possivel responda para o e-mail guilhermecarvalho@terra.com.br

    Obrigado

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