Principais tratamentos da acne

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Certamente, a grande maioria de nós já sofreu com o aparecimento da famosa acne vulgaris, popularmente conhecida como “espinha”, em algum momento da vida.  A acne, que do grego quer dizer “eflorescência”, “ponto de elevação”, trata-se de uma doença inflamatória crônica do folículo pilosebáceo. Apesar de ser uma doença presente em 80% dos adolescentes, com maior incidência nas jovens de 14 a 17 anos e nos rapazes de 16 a 19 anos, temos observado a presença desta doença na idade adulta, acometendo 64% dos adultos na faixa dos 20 anos e 43% dos adultos na faixa dos 30 anos, com prevalência maior em mulheres. As lesões causadas pela acne podem ir além da estética, levando à depressão, ansiedade e outros transtornos psicológicos.

A acne acomete mais mulheres do que homens na idade adulta.
Foto: nensuria / Freepik.com

Além da face, a acne também pode se manifestar nos ombros e na parte superior das costas e peito. Os quatro fatores descritos abaixo, juntamente com a influência genética, estão relacionados ao aparecimento desta patologia cutânea:

  • Aumento da glândula sebácea e da produção de sebo ocasionada pelo aumento na quantidade de hormônios na puberdade (principalmente testosterona);
  • Hiperqueratinização (aumento de queratinócitos com diminuição na velocidade da descamação) do folículo pilosebáceo com obstrução e formação de microcomedão;
  • Proliferação do Propionibacterium acnes, uma bactéria que utiliza os lipídeos presentes na secreção sebácea como nutriente;
  • Resposta inflamatória com produção de numerosas moléculas pró-inflamatórias dentro do folículo e a sua volta.

Além destes quatros fatores relacionados com o aparecimento da acne, existem fatores endógenos e exógenos que podem agravar a acne, como a obstrução mecânica da região; o uso de alguns medicamentos como  os esteróides anabólicos, corticóides, vitaminas B1, B6 e B12, progestágenos androgênicos, etc.; o uso de cosméticos comedogênicos e emolientes oclusivos; sudorese excessiva; exposição à radiação ultravioleta; estresse e  alterações endócrinas como a Síndrome de Cushing e ovário policístico.

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Classificação das lesões de acne

Dependendo do tipo de lesão ocasionada, a acne pode ser classificada em:

  • Acne grau I: apresenta comedões fechados e abertos e não possui inflamação;
  • Acne grau II: presença de poucas pápulas e pústulas, além de comedões, mas não se observa nódulos;
  • Acne grau III: presença de muitas pápulas e pústulas, com nódulos e cistos;
  • Acne grau IV: pápulas e pústulas numerosas, presença de muitos nódulos inflamatórios com formação de abcessos e fístulas;
  • Acne grau V: é uma forma rara e grave de acne, acompanhada de manifestações sistêmicas como febre, leucocitose e artralgia.

A classificação da acne é importante, pois determina a escolha do melhor tratamento. Dependendo da classificação da lesão o uso de cosméticos não adiantará, e neste caso o médico dermatologista deverá ser consultado para o tratamento com medicamentos.

 

Tratamentos da acne

Tipos de tratamento da acne.

Tratamento da acne tópicos

A acne grau 1 e 2 pode ser tratada com cosméticos ou medicamentos de uso tópico. Tanto o ativo cosmético, quanto o medicamento devem atuar na  secreção do sebo, possuir ação queratolítica, reduzir a proliferação bacteriana e a oleosidade da pele, possuir ação antioxidante e anti-inflamatória. Dentre os ativos cosméticos disponíveis para o tratamento da acne temos o ácido salicílico, o óleo de melaleuca, aloe vera, óleo de copaíba, a niacinamida, beta-glucanas, zinco, enxofre, triclosan, camomila, calêndula e cloreto de benzalcônio.

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Os medicamentos tópicos utilizados para o tratamento da acne incluem os retinóides (tretinoína, adapaleno, tazaroteno) e o próprio ácido retinóico, os antibióticos (eritromicina e clindamicina), o peróxido de benzoíla e o ácido azeláico.

Outro tratamento tópico utilizado é o peeling químico com hidroxiácidos. Os peelings químicos atuam na remoção da epiderme estimulando a re-epitelização e o rejuvenescimento da pele, além de reduzirem a hiperpigmentação e marcas superficiais presentes na pele. Podemos dividir os peelings químicos utilizados no tratatamento da acne em alfa-hidroxiácidos (ácido glicólico e lático) e beta-hidroxiácidos (ácido salicílico). O peeling de ácido salicílico é muito utilizado no tratamento da acne, e a concentração de ácido neste peeling (20 a 30%) é muito superior à concentração presente em cosméticos (máximo permitido de 2% em produtos para acne). Vale lembrar que para a sua segurança, peelings químicos devem ser realizados por profissionais habilitados.

A acne grau I e II pode ser tratada com cosméticos e medicamentos tópicos
Foto: yanalya / Freepik.com

Tratamentos da acne sistêmicos (via oral)

O tratamento por via oral é introduzido quando a acne é resistente ao tratamento tópico, ou se existe a presença de nódulos inflamatórios que deixam cicatrizes (acne grau III e IV).

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Os medicamentos utilizados neste caso são a isotretinoína, os antibióticos (clindamicina e eritromicina), a espironolactona e os contraceptivos hormonais. Lembrando que para prescrição destes medicamentos o médico dermatologista deve ser consultado, e no caso da necessidade da utilização de hormônios (anticoncepcionais), o médico ginecologista também deve ser consultado.

 

Tratamentos da acne físicos

Existem alguns tratamentos físicos que podem ser utilizados como adjuvantes no tratamento da acne. A extração do comedão, parte da técnica conhecida como limpeza de pele, é um dos tratamentos físicos que podem ser empregados no tratamento da acne. Na limpeza de pele são realizadas as seguintes etapas: assepsia, esfoliação, extração, alta frequência, máscara calmante e aplicação do filtro solar. A limpeza de pele deve ser realizada pelo menos 1 vez ao mês.  A alta frequência é uma aparelho com ação cicatrizante e anti-inflamatória. Ao passar o aparelho na superfície da pele, provoca a formação de ozônio (O3), que por ser instável, se decompõe velozmente em oxigênio molecular (O2) e em oxigênio atômico (O), o oxigênio atômico resultante possui ação antibactericida e antifúngica.

Os lasers e as demais terapias baseadas na emissão de luz também são classificados como tratamentos físicos da acne. O P. acnes, envolvido na fisiopatologia da acne produz e acumula porfirinas. Estas porfirinas absorvem energia da luz perto do espectro do UV e da luz azul. A exposição a comprimentos de onda absorvidos induz estes fotossensibilizantes (porfirinas) a gerar espécies altamente reativas de radicais livres (como o oxigênio singlet: O), que posteriormente causam destruição bacteriana. Embora os comprimentos de onda mais eficientes em destruir o P. acnes estejam na faixa de 400 e 430 nm (LED azul), outros recursos fotodinâmicos podem afetar o P. acnes como o laser vermelho, laser KTP (potassium-titanyl-phosphate)  e o  laser PDL (pulsed dye laser). Existem ainda os lasers que atuam na diminuição da glândula sebácea como o laser infra-vermelho, a luz intensa pulsada, laser de diodo e o laser de erbium.

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O principal objetivo do tratamento da acne é controlar e tratar as lesões existentes, prevenindo o aparecimento de cicatrizes permanentes. O paciente deve ser informado que uma melhora no quadro da acne poderá ser observada somente após 3 – 6 meses de tratamento. Fatores individuais como a severidade das lesões, histórico endócrino, condição médica atual e tratamentos prévios devem ser levados em consideração para a escolha do melhor tratamento. A combinação do tratamento que atinja mais de um mecanismo associado ao aparecimento da acne possui maior chance de sucesso.

Referências:

LIZELLE F, L.; C.SONGRADI.; AUCAMP, M.; DU PLESSIS, J.; GERBER,M. Treatment Modalities for Acne. Molecules. v. 21, p.1-20, 2016.

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RAI, R. AND NATARAJAN, K. Laser and light based treatments of acne. Indian J Dermatol Venereol Leprol. v.79, p.300-9, 2013.

CLAÚDIO RIBEIRO. ACNE. Cosmetologia Aplicada à Dermoestética. p.243-259. 2 edição. Pharmabooks, 2010.

http://limpandosuapele.com.br/alta-frequencia/, acesso em 18/02/2018.

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https://www.dermaclub.com.br/noticia/limpeza-de-pele-saiba-como-e-feito-o-tratamento-e-veja-dicas-para-amenizar-a-vermelhidao-pos-procedimento_a402/1,  acesso em 18/02/2018.

Por Bianca Stocco

Redatora. Biomédica pelo Centro Universitário Barão de Mauá. Mestre e Doutora em Ciências pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo. Pós – graduada em Biomedicina Estética pela Fatesa (Faculdade de Tecnologia em Saúde de Ribeirão Preto). Tem experiência na área de pesquisa e desenvolvimento de ativos e formulações cosméticas para pele e em procedimentos estéticos faciais, corporais e capilares.