Reologia e tribologia da pele

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Se a reologia é a ciência que estuda a deformação da matéria (saiba mais sobre reologia aqui), então a pele também tem propriedades reológicas. De fato, a pele é constituída por materiais líquidos, sólidos e também gasosos, de modo que seu aspecto final é uma combinação de propriedades desses materiais. Para os produtos cosméticos, a importância da reologia reside na compreensão e manipulação da capacidade de escoamento e espalhabilidade dos materiais. Mas no caso da pele, a reologia é importante em função da propriedade de viscoelasticidade do tecido cutâneo. A elasticidade refere-se à capacidade de retornar à forma de repouso, uma vez que a tensão é removida. E a viscosidade representa a resistência à deformação causada por uma tensão qualquer, por exemplo, um beliscão, a aplicação de um creme, uma massagem etc.

Se vista de bem perto, a pele humana possui um microrrelevo assim como muitos outros animais.
Foto: anankkml / FreeDigitalPhotos.net

Observações microscópicas da pele humana revelam que a topografia cutânea consiste em uma rede de linhas organizadas, que refletem as tensões multidirecionais as quais estão sujeitas as fibras elásticas e colágenas da derme superficial. Esta morfologia é determinada no nascimento e sofre alterações de profundidade e frequência até a puberdade. Não obstante, o envelhecimento também exerce seu efeito sobre a viscoelasticidade da pele.

Apesar de ser composta por 3 camadas com propriedades mecânicas diferentes (epiderme, derme e hipoderme), a pele reage como um material de camada única, cuja resiliência é determinada pela rede de fibras elásticas e colágenas. No entanto, em função do envelhecimento cronológico, a densidade de fibras conjuntivas começa a diminuir a partir dos 20 anos de idade, iniciando um ciclo de perda de elasticidade e aumento de viscosidade. A hidratação da pele por meio de produtos cosméticos e dermatológicos pode reduzir o aspecto dos efeitos do envelhecimento e melhorar momentaneamente a elasticidade cutânea.

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A perda de fibras do tecido conjuntivo em função da idade altera a aparência da pele.
Foto: stockimages / FreeDigitalPhotos.net

Outros exemplos de efeitos do tempo sobre a pele são a redução da percepção tátil e o aspecto macroscópico de desgaste. Por isso, os estudos de tribologia da pele podem auxiliar o formulador a compreender os efeitos dos produtos cosméticos ou dermatológicos enquanto agentes lubrificantes e redutores de atrito. Em outras palavras, a tribologia auxilia a compreender a percepção sensorial que o consumidor tem sobre o produto (saiba mais aqui). Contudo, vale lembrar que a percepção que um adolescente tem não será a mesma que um consumidor na melhor idade, devido às mudanças na pele decorrentes do passar do tempo.

A tribologia é o estudo da combinação das propriedades de atrito, lubrificação e desgaste sobre um sistema físico. O atrito representa uma força de fricção (como a massagem, a interação entre a pele e a roupa ou o ato de sentar-se por um longo período) que pode resultar em um desgaste superficial (erosão, corrosão ou abrasão e, no caso da pele, inflamação), o qual pode ser prevenido ou amenizado por meio de um lubrificante (como um produto cosmético). Quando o substrato do estudo tribológico é a pele (e isso também serve para os cabelos!), faz-se necessário considerar que a própria matriz do estudo está sujeita a outras causas de desgaste e que as alterações da pele não dependem apenas do atrito, mas também da exposição ao sol, dos hábitos de vida e das alterações da composição química do tecido cutâneo, entre outros fatores. Contudo, os métodos tribológicos oferecem uma ferramenta conveniente para a comparação da eficiência de diferentes formulações e benchmarks.

A aplicação de cosméticos na pele e a consequente percepção sensorial podem ser estudados pela tribologia
Foto: marin / FreeDigitalPhotos.net

Neste texto, vimos como os conceitos de reologia e tribologia são importantes não só para as formulações, mas também para o substrato no qual elas são aplicadas, como a pele e os cabelos. Alertou-se também para o fato de que a percepção sensorial que os consumidores têm em relação a um produto pode ser diferente conforme a idade. E quanto a você? Já recorreu a estudos reológicos e tribológicos para melhor compreender e distinguir seus produtos?

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Referências:
ZABOUANI, H. et al. Effect of human aging on skin rheology and tribology. Wear, 271:2364-2369, 2011.

Por Ivan Souza

Coordenador de Conteúdo. Farmacêutico Industrial pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). MBA em Gestão Empresarial (UEM). Doutor em Ciências pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo (USP). Experiência em pesquisa e desenvolvimento de inovações no setor cosmético e farmacêutico.

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