Uma batalha já conhecida pelas mulheres, mas que ganha cada vez mais adeptos no sexo masculino, a depilação é vista como forma de deixar o corpo mais atraente e mais higiênico. Os homens veem também a oportunidade de torná-lo menos “animalizado” com a prática. Entretanto, como todo bônus traz um ônus, desta vez não poderia ser diferente: diversas pesquisas revelaram um aumento dos casos de lesões na pele consequentes deste hábito. Uma destas pesquisas apresenta que entre os anos de 2002 e 2010, foram atendidos aproximadamente 11.704 pacientes com lesões nas regiões genitais relacionadas à depilação no departamento de emergência dos Estados Unidos. Foram relatados cortes, irritações, infecções, erupções na pele, acne, reações alérgicas e pelos encavados. Quem nunca, né?
Foto: radnatt / FreeDigitalPhotos.net
Em outro estudo, realizado apenas com mulheres, cerca de 60% das entrevistadas relataram alguma complicação devido à fricção da área depilada, 18% declaram que já tiveram cortes, 13% informaram ter sofrido erupções cutâneas e 4% precisaram recorrer ao auxílio médico.
Os ferimentos causados na pele pela depilação já são estudados nos EUA há algum tempo. Entretanto, a maioria destes estudos se baseava em auto declaração, avaliava um gênero específico e/ou uma região determinada do corpo, não incluindo o rosto. Assim, com o objetivo de identificar, quantificar e descrever as tendências de lesões entre os anos de 1991 e 2014, foi realizado um estudo baseado em relatórios dos serviços de atendimento de emergência dos EUA. As informações, tabelas e gráficos abaixo se referem à esta pesquisa, citada nas referências bibliográficas no final do texto. Os resultados deste estudo, reunidos na tabela 1 abaixo, mostram que:
- neste período, ocorreram, mais de 292 mil casos de lesões associadas à depilação no país, sendo a maioria delas em pessoas de idade entre 35 e 64 anos (36,0%);
- as ocorrências são bem distribuídas entre homens e mulheres: 51,5% dos casos atendidos foram pacientes do sexo masculino e 48,5% do sexo feminino, o que revela que os homens já aderiram à prática;
- a maioria das lesões ocorre durante a prática da depilação em casa (60,1%);
- face (34,8%), membros inferiores, superiores e a região pubiana foram as áreas de maior incidência de casos, respectivamente;
- os cortes são as lesões predominantes (50,2%).
Fonte: Swain et. al., 2016
Avaliando mais a fundo os resultados da pesquisa, pode-se afirmar que a incidência dos casos aumentou entre 1991 e 2014, tanto em homens quanto em mulheres, mas com prevalência de lesões em homens até o ano de 2007. No que tange à idade, embora pacientes de 65 anos ou mais tenham tido a maior incidência até 2010, o número de ocorrências foi maior entre pessoas de 19 a 34 anos, como revela a figura 1 abaixo:
Fonte: Swain et. al., 2016
As regiões do corpo mais afetadas pela prática de depilação podem ser vistas nas figuras 2 e 3, que seguem abaixo. Enquanto em homens (figura 2) a região mais agredida é a face, seguida pelos membros superiores, nas mulheres (figura 3) a maioria dos casos ocorre nos membros inferiores e na região pubiana. Nos últimos anos da pesquisa percebe-se, ainda, que a incidência de lesões no troco aumentou em ambos os sexos.
Fonte: Swain et. al., 2016
Fonte: Swain et. al., 2016
Este estudo avaliou também os equipamentos utilizados para a realização da depilação e sua relação com a idade e sexo do usuário. Como ilustrado na tabela 2, foram considerados na pesquisa o barbeador elétrico, aparelho elétrico para corte de cabelo, lâminas simples (as descartáveis) de barbear, tesouras e navalhas, que seguem da esquerda para a direta.
Fonte: Swain et. al., 2016
Pela leitura da tabela 2 acima, pode-se verificar que os homens são os maiores acometidos de lesões decorrentes do uso de barbeador elétrico e do aparelho elétrico para corte de cabelo. Já as lâminas simples e navalhas tem seu uso bem distribuído entre os sexos e predominância de lesões na faixa etária de 19 a 64 anos, o que corrobora a ideia de que trata-se da forma mais comum deste tipo de depilação.
De acordo com a pesquisa e conforme a figura 4 abaixo, a maioria dos ferimentos ocorre nas regiões genitais, com grande salto entre os anos de 2009 a 2013, seguida pela região do tronco. O aumento de incidências na face e em membros inferiores indicado em homens e mulheres nas figuras 2 e 3 respectivamente, também pode ser visualizada nesta tabela geral de lesões.
Fonte: Swain et. al., 2016
A figura 5 abaixo mostra a tendência de uso de cada tipo de aparelho para depilação relacionada às lesões que provocaram em seus usuários, no período de 1991 à 2014, com o predomínio de lâminas simples e navalhas.
Fonte: Swain et. al., 2016
Este estudo comprovou que as lesões causadas pela remoção de pelos aumentou e que homens e mulheres utilizam desta prática em partes diferentes do corpo. Reforçou, também, o que já havia sido comprovado por outros estudos: em ambos os sexos a maioria dos ferimentos nas regiões genitais ocorre entre 19 e 34 anos e revelou um grande salto nos atendimentos relacionados à esta região. Apesar disto, a parte mais danificada em homens e mulheres é a face e membros inferiores, respectivamente e, embora seja importante observar a tendência de incidência de emergências na região pubiana em homens e mulheres, verificar o aumento de casos em regiões específicas do corpo em cada gênero também se faz relevante.
O aumento de casos em pessoas acima de 65 anos entre os anos de 1991 e 2010 pode se relacionar à fragilidade da pele madura, como a perda da firmeza e da espessura da pele, às doenças neurológicas como Parkinson e esclerose múltipla, que causam perda dos movimentos finos das mãos e à debilidade do próprio organismo que promovem maior risco de infecção nestes pacientes.
Outro fato interessante revelado pelo estudo é o hábito de consumo dos aparelhos para a depilação: entre os anos de 2007 e 2008 ocorreu uma recessão no mercado americano e as indústrias de aparelhos para depilação tiveram uma queda de 5% em suas vendas. É possível que o aumento das lesões entre 2008 e 2013 tenham sido influenciadas pelo aumento de compra de navalhas e lâminas simples devido aos orçamentos mais apertados, o que está em acordo com o não aumento de casos com os aparelhos elétricos, mais caros. Importante ressaltar que não houve nenhuma evidência que sugira que o uso de lâminas descartáveis cause mais lesões que outros tipos de aparelhos de depilação.
Como o estudo não levou em consideração casos que não exigiram cuidados médicos, que foram tratados fora da emergência ou, ainda, que não recorreram à nenhuma ajuda, seus números podem ter sido subestimados. Além disto, tem-se a dificuldade de se encontrar dados disponíveis sobre outras formas de depilação, como ceras, cremes depilatórios, laser e luz pulsada, o que impede de quantifica-los para um panorama mais geral do “risco” da prática.
Devido ao aumento na incidência de lesões decorrentes da depilação, é importante que consumidores revejam a prática e, principalmente aqueles com idade ente 19 e 34 anos e os acima de 65 anos devem ter maior cuidado em realiza-la. Sempre bom lembrar que lâmina muito afiada ou muito velha são as que causam maior risco à pele. E claro, nunca, jamais e em hipótese alguma compartilhar a lâmina para evitar as doenças que podem ser transmitidas por elas, hein?!