Anatomia e fisiologia das unhas

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Frequentemente esquecidas ou ignoradas pelos profissionais da indústria cosmética, as unhas são anexos de grande importância para todos nós. Não apenas por ser um mercado ainda em crescimento e que nos últimos anos tem mostrado grande diversificação e inovação. Por isso vamos tratar das unhas. Se prepara que tem vocabulário novo! Posso garantir que você nunca mais vai olhar para suas unhas do mesmo jeito.

As unhas são lâminas epidérmicas, queratinizadas, presentes na extremidade dos dedos. Graças a elas temos capacidade de exercer pressão com os dedos e executar movimentos finos e precisos, como tocar levemente a tela do smartphone, por exemplo. Vamos conhecer agora a complexa estrutura desse anexo da epiderme que é a unha humana, ou o aparelho ungueal.

Lee Redmond, recorde mundial de maior unha das mãos (2016).
Foto: divulgação / Guiness World Records

Anatomia da unha

Morfologicamente, a unha é uma placa de queratina dura, ligeiramente convexa, que está fixada em tecidos moles dos dedos das mãos e dos pés, tecnicamente conhecida como lâmina ungueal. Ela se origina a partir da matriz da unha, localizada na parte proximal do aparato ungueal, isto é, a unha. Para compreender melhor todo esse aparato, vamos por tópicos:

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Estrutura da unha.
Foto: adaptado de Openstax CNX.
  • Unha (lâmina ungueal): A lâmina da unha é composta por três camadas: uma camada interna macia (a unha ventral), uma camada intermediária de queratina dura e a camada mais externa (unha dorsal). Assim, o que parece simples aos olhos pode ter uma estrutura microscópica complexa. As camadas da lâmina da unha são achatadas e compostas por uma massa relativamente elástica de células paralelas queratinizadas e fundidas, os onicócitos. Ao contrário dos corneócitos da epiderme, as células das unhas não descamam.
  • Unha livre: A unha livre é a parte da lâmina “flutua” fora do dedo. Abaixo da unha livre, na região após o hiponíquio (calma! leia logo abaixo o que é isso), está uma região que é um excelente reservatório de sujidades e microrganismos! Por isso sua mãe sempre dizia: “lave a parte de baixo das unhas!”
  • Sulcos periungueais: são as regiões limítrofes da unha, em que ela ainda tem algum contato com a epiderme. Elas são nomeadas anatomicamente, de acordo com a localização em relação à lâmina da unha. Por isso temos dois sulcos ungueais laterais (nas laterais da unha), o sulco ungueal proximal (na região da raiz da unha) e o sulco ungueal distal (na ponta dos dedos).
  • Lúnula: A lúnula é a região branca em formato de meia-lua na base da unha, a parte proximal. É mais visível nos polegares e dedões dos pés, mas está presente em todas as unhas.
  • Eponíquio: É a famosa (e indesejável) cutícula. Uma camada transparente de células que adere à superfície da unha na base e atua como vedação entre a placa da unha e o sulco ungueal proximal. (Atenção!) A remoção da cutícula possibilita a entrada de água, corpos estranhos, fungos e bactérias. Isso pode favorecer a inflamação periungueal, tecnicamente denominada de paroníquia. Então, da próxima vez que for à manicure, não fale com ela para não retirar bifes das suas unhas, peça a ela para evitar a paroníquia.
Estrutura da unha, com detalhe para matriz e hiponíquio.
Foto: adaptado de Openstax CNX.
  • Matriz: É a região a partir da qual cresce a lâmina da unha que, não por acaso, cresce da região proximal para a região distal. Ou seja, unha cresce afastando-se da matriz, deslizando pelo leito da unha e se separa o dedo na região distal.
  • Hiponíquio: É a região da epiderme onde a lâmina da unha de afasta do leito. É a última parte onde a lâmina tem contato com a epiderme.
  • Leito: O leito da unha é um epitélio fino e com poucas camadas celulares. Ele se queratiniza sem nenhuma camada de células granulares (ao contrário da epiderme!). É a base do dedo sobre a qual a unha cresce e se apoia. Ele pode ser visto através da unha. É uma região altamente irrigada por vasos sanguíneos. Também no leito, os melanócitos são raros ou até mesmo ausentes.
  • Banda onicodermal: A banda onicodermal (onychodermal band) é um halo levemente alaranjado presente na região distal da unha. Trata-se de uma região de fixação entre o leito ungueal e a lâmina da unha. Sob pressão, a banda onicodermal pode ficar branca ou avermelhada (pois aumenta a irrigação sanguínea local). No entanto, assim como a cutícula, a banda onicodermal pode afetar seriamente a função da unha, pois o descolamento da lâmina da unha a partir do leito (onicólise) pode ser a porta de entrada de agentes infecciosos.
detalhe para a banda onicodermal (onychodermal band).
Foto: Reprodução / Medscape.com

A superfície da lâmina da unha é lisa e tem nervuras longitudinais discretas, mas que se tornam mais evidentes com a idade (Isso mesmo! Suas unhas denunciam sua idade!). Algumas doenças também podem aumentar essas ranhuras e também deixar as unhas frágeis e quebradiças. A superfície inferior da lâmina ungueal também possui ranhuras que servem para aderir a lâmina ao leito (os nós de ancoragem).

Composição química da unha

Devido ao arranjo regular e adesão dos onicócitos, os nós de ancoragem ao leito e a alta concentração de enxofre da queratina, a unha normal é dura, flexível e elástica. Por isso é resistente aos traumatismos que sofre diariamente (e nós nem sequer nos damos conta do quanto nossas unhas estão expostas a stress mecânico dia após dia). Você consegue contar quantas vezes bate os dedos e as unhas ao digitar um e-mail, por exemplo? Todos os clique com o mouse. Quantas vezes por dia você bate acidentalmente o dorso das mãos na parede?

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Sem nenhuma surpresa, a unha é altamente rica em queratina, especialmente a alfa-queratina. Uma queratina mais dura que a da pele, mas que se aproxima da queratina encontrada nos cabelos, pois possui alto teor de ligações dissulfeto (cistina). É essa característica de possuir alto teor de enxofre que confere a esse tipo de queratina a alta resistência e propriedade de barreira semipermeável.

A estrutura proteica fibrosa contém alta proporção do aminoácido cistina, rico em enxofre, e uma menor proporção de outros aminoácidos como a metionina, tirosina, lisina e histidina. O enxofre representa 10% do peso seco da unha, enquanto o cálcio representa de 0,1 a 0,2%. Comparado ao estrato córneo da pele, a unha possui menos lipídeos (0,1 a 1% contra 10%) e menos água (7 a 12% contra 15 a 25%). No entanto, a unha é altamente permeável à água. Quando o nível de hidratação aumenta, a unha fica macia e opaca, mas quando a hidratação diminui, ela fica seca e quebradiça. Por essa razão, os produtos destinados ao cuidado com as unhas não devem remover o conteúdo as substâncias naturais (hidrossolúveis ou lipossolúveis) das unhas, pois o uso prolongado pode acabar promovendo rachaduras ou até mesmo a quebra das unhas.

Fisiologia da unha

A unha cresce normalmente a uma taxa média de 0,1 mm por dia. Sendo assim, levaria de 4 a 5 meses para que a unha se regenerasse por completo após sua remoção. Idade, frio, doenças que afetem a circulação sanguínea e má nutrição são fatores que reduzem a taxa de crescimento das unhas.

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Acredita-se que cerca de 80% da lâmina da unha é produzida pela matriz com a produção de queratina dura. Os outros 20% da lâmina seriam produzidos pelo leito ungueal. Assim, a unha poderia ser formada simultaneamente no sentido da matriz para a ponta do dedo e do leito para a superfície externa da unha.

Os cuidados básicos com as unhas

Ao longo dos séculos a unha tem representado um papel de destaque na sociedade. Ter unhas limpas, por exemplo, é essencial para ser considerado alguém belo, recatado e do lar, independente se é mulher ou homem. A diferença é que, em geral, as mulheres preferem as unhas longas e pintadas.

Unhas com boa aparência têm aspecto liso e brilhante (terá sido um recurso para esconder a idade?). A cutícula deve estar intacta e fina, praticamente imperceptível. Os sulcos laterais devem estar limpos e sem tecidos ou feridas aparentes. Já para a unha livre a realidade é diferente. Não há pressão social sobre ela. Não há padrões. A unha livre pode ser rente ao dedo, longa, ter a forma redonda, afinada, oval, quadrada, etc. No entanto, a maioria das mulheres prefere as unhas longas e ovais, pois alongam os dedos. Os homens usam mais as unhas curtas e quadradas; com bases incolores com ou sem brilho (vai do gosto do freguês).

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O importante é manter as unhas limpas, lavá-las diariamente, ou até mais vezes ao dia, dependendo das tarefas executadas. Uma pessoa que cuida do jardim, por exemplo, deve lavar bem as unhas após terminar a atividade. Aquela velha história de nossas mães (pais, avós, tios, tias, primos mais velhos) nos mandarem lavar as mãos antes das refeições, lembra? Ela também se aplica a parte inferior das unhas, que é um verdadeiro metrô para microrganismos.

Antes de finalizar esta matéria, preciso agradecer a contribuição do Ivan e da Gisely (da equipe Cosmética em Foco). Se você gostou do texto foi porque este é o resultado de um trabalho de equipe. Se você não gostou foi porque eu escrevi mal mesmo, então por favor envie os dados e as referências que atualizaremos o texto.

Referências:
ANDRÉ, Josette. The normal nail. In: BAREL, André O.; PAYE, Marc; MAIBACH, Howard I. Handbook of cosmetic science and technology. 3rd ed. New York: Informa, 2009. pp. 737-743.
SCHLOSSMAN, Mitchell L. Manicure Preparations. In: BUTLER, H. Poucher’s Perfumes, Cosmetics and Soaps. 10th ed. Dordrecht: Kluwer Academic Publishers, 2000. pp.323-343.

Por Gustavo Boaventura

Criador e Diretor de Conteúdo. Farmacêutico Industrial pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Especialista em Pesquisa & Desenvolvimento de Produtos Cosméticos. Mestre em Comunicação pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) com foco no consumo de cosméticos masculinos. Bacharel em Administração pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas). Experiência em Pesquisa & Desenvolvimento de produtos capilares. É o idealizador e criador do Cosmética em Foco e escreve desde 2007.

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