Vírus em cosméticos: será que há males que vem para o bem?

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Neste mês de fevereiro, o tema que norteou as publicações do CFoco foi a contemporânea epidemia do vírus zika e o consequente aumento no consumo de repelentes (leia aqui). Logo, a população em geral sabe e vivencia o potencial dos vírus para o mal. Mas será que os vírus podem ter algum aspecto benéfico?

Certamente, cientistas que defendem as Teorias da Evolução podem nos contar diversas estórias sobre como os vírus foram importantes para a evolução das diferentes espécies que conhecemos hoje, inclusive a humana. Na verdade, na aclamada obra de ficção de Herbert Wells, A Guerra dos Mundos ( alerta spoiler! ), os micro-organismos são tratados… pasmem… como a salvação do planeta Terra diante da ameaça alienígena!

Adaptação de A Guerra dos Mundos para o cinema, por Steven Spielberg.
Foto: Divulgação Paramount Pictures.

Como todos os bons pesquisadores, um grupo de cientistas da Universidade da Califórnia em Los Angeles e da Universidade de Pittsburgh, nos EUA, resolveu tratar os vírus de forma imparcial e obtiveram algumas respostas que poderão um dia resultar na nova onda para o tratamento e controle da acne! O estudo, que foi publicado no jornal mBio, da Sociedade Americana de Microbiologia, traz valiosos pensamentos sobre a acne e a bactéria associada com a formação das espinhas na pele, a Propionibacterium acnes.

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Hoje em dia, os tratamentos mais eficientes para o controle da acne atuam reduzindo a quantidade de P. acnes na pele (tais como o peróxido de benzoíla, o ácido salicílico e os, já em desuso, derivados de enxofre). O problema é que a maioria desses ingredientes ativos ou fármacos vêm acompanhados de algum efeito indesejado, por exemplo, um cheiro desagradável muito forte (o enxofre!), o ressecamento excessivo da pele (o enxofre, o ácido salicílico e os retinóides!) ou mesmo a audaciosa propriedade de manchar aquela roupa novinha que você acabou de comprar (obrigado, querido peróxido de benzoíla!).

A sacada dos pesquisadores consistiu em estudar o potencial de bacteriófagos de P. acnes, isto é, uma família de vírus que é inofensiva aos humanos, mas especializada em infectar e matar as bactérias do gênero P. acnes. Os cientistas perceberam que os bacteriófagos não apresentam diversidade genética considerável, o que torna esta família de vírus candidata ideal para o desenvolvimento de novos produtos que alvejam a acne.

Bactéria (em amarelo) sendo infectada por bacteriófago (em verde).
Foto: Reprodução Science Mag/Prisma Científico.

Na verdade, estes bacteriófagos são naturalmente encontrados na pele dos seres humanos, mas os pesquisadores cogitam que a quantidade e a atividade dos vírus não seja igualmente suficiente em todos os indivíduos para evitar a acne. De fato, talvez seja esse um dos motivos pelo qual algumas pessoas são mais propensas à acne que outras. De qualquer forma, as próximas etapas da pesquisa consistem em entender se os componentes do vírus são tão eficientes contra a acne como o vírus em si, bem como averiguar a segurança desta tecnologia!

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Talvez, no futuro, tenhamos cosméticos contendo bacteriófagos ou proteínas virais como ingredientes ativos. Totalmente natural e, a princípio, sem os efeitos colaterais dos produtos já existentes. Será que o mercado vai aprovar esta ideia?!

Referências:
mBio
Cosmetics Design

Por Ivan Souza

Coordenador de Conteúdo. Farmacêutico Industrial pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). MBA em Gestão Empresarial (UEM). Doutor em Ciências pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo (USP). Experiência em pesquisa e desenvolvimento de inovações no setor cosmético e farmacêutico.