Neste mês de fevereiro, o tema que norteou as publicações do CFoco foi a contemporânea epidemia do vírus zika e o consequente aumento no consumo de repelentes (leia aqui). Logo, a população em geral sabe e vivencia o potencial dos vírus para o mal. Mas será que os vírus podem ter algum aspecto benéfico?
Certamente, cientistas que defendem as Teorias da Evolução podem nos contar diversas estórias sobre como os vírus foram importantes para a evolução das diferentes espécies que conhecemos hoje, inclusive a humana. Na verdade, na aclamada obra de ficção de Herbert Wells, A Guerra dos Mundos ( alerta spoiler! ), os micro-organismos são tratados… pasmem… como a salvação do planeta Terra diante da ameaça alienígena!
Foto: Divulgação Paramount Pictures.
Como todos os bons pesquisadores, um grupo de cientistas da Universidade da Califórnia em Los Angeles e da Universidade de Pittsburgh, nos EUA, resolveu tratar os vírus de forma imparcial e obtiveram algumas respostas que poderão um dia resultar na nova onda para o tratamento e controle da acne! O estudo, que foi publicado no jornal mBio, da Sociedade Americana de Microbiologia, traz valiosos pensamentos sobre a acne e a bactéria associada com a formação das espinhas na pele, a Propionibacterium acnes.
Hoje em dia, os tratamentos mais eficientes para o controle da acne atuam reduzindo a quantidade de P. acnes na pele (tais como o peróxido de benzoíla, o ácido salicílico e os, já em desuso, derivados de enxofre). O problema é que a maioria desses ingredientes ativos ou fármacos vêm acompanhados de algum efeito indesejado, por exemplo, um cheiro desagradável muito forte (o enxofre!), o ressecamento excessivo da pele (o enxofre, o ácido salicílico e os retinóides!) ou mesmo a audaciosa propriedade de manchar aquela roupa novinha que você acabou de comprar (obrigado, querido peróxido de benzoíla!).
A sacada dos pesquisadores consistiu em estudar o potencial de bacteriófagos de P. acnes, isto é, uma família de vírus que é inofensiva aos humanos, mas especializada em infectar e matar as bactérias do gênero P. acnes. Os cientistas perceberam que os bacteriófagos não apresentam diversidade genética considerável, o que torna esta família de vírus candidata ideal para o desenvolvimento de novos produtos que alvejam a acne.
Foto: Reprodução Science Mag/Prisma Científico.
Na verdade, estes bacteriófagos são naturalmente encontrados na pele dos seres humanos, mas os pesquisadores cogitam que a quantidade e a atividade dos vírus não seja igualmente suficiente em todos os indivíduos para evitar a acne. De fato, talvez seja esse um dos motivos pelo qual algumas pessoas são mais propensas à acne que outras. De qualquer forma, as próximas etapas da pesquisa consistem em entender se os componentes do vírus são tão eficientes contra a acne como o vírus em si, bem como averiguar a segurança desta tecnologia!
Talvez, no futuro, tenhamos cosméticos contendo bacteriófagos ou proteínas virais como ingredientes ativos. Totalmente natural e, a princípio, sem os efeitos colaterais dos produtos já existentes. Será que o mercado vai aprovar esta ideia?!
Referências:
mBio
Cosmetics Design