Colágeno verisol funciona de verdade?

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Você já deve ter ouvido falar sobre o tal colágeno verisol, que não é um ingrediente cosmético, mas é alvo de muitas dúvidas quando o assunto é estímulo da produção de colágeno. Recebemos alguns pedidos de leitores para tratarmos do tema e isso também foi assunto de uma das lives que fizemos recentemente no Instagram (siga os nossos perfis @cosmeticaemfoco nas principais redes).

Antes de falarmos sobre o colágeno verisol, é importante recapitularmos alguns pontos importantes sobre colágeno hidrolisado. Recentemente publicamos um artigo sobre colágeno. É importante a leitura desse artigo antes de seguir. Se você já leu o artigo anterior, vem comigo. Mas se você ainda não leu, clique aqui e depois volta!

Tecidos do corpo onde há colágeno, e que podem ter melhoria com ingestão oral de proteína, peptídeos e peptídeos ativos de colágeno.

O que é colágeno e onde ele está presente no corpo humano

Complementando o texto anterior, o colágeno é uma das proteínas mais estudadas desde que foi descoberta em 1969. Por essa razão já foram identificados diferentes tipos de colágeno, cada um presente na matriz extracelular em diferentes regiões do organismo. Os diferentes tipos de colágenos possuem funções especializadas em diversos tecidos. Os mais abundantes formam as bases estruturais da pele, tendões, ossos, cartilagem e outros tecidos.

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Tipo de Colágeno Tecido
Colágeno tipo I tendão, ossos, pele
Colágeno tipo II cartilagem, humor vítreo
Colágeno tipo IV membrana basal
Colágeno tipo VII fibras de ancoragem
Colágeno tipo IX onipresente
Colágeno tipo XII onipresente
Colágeno tipo XIII membrana celular
Colágeno tipo XVII membrana celular
Colágeno tipo XXIII membrana celular
Colágeno tipo XXV membrana celular

Como é obtido o colágeno industrialmente

Os tipos de colágeno mais comuns e usados pela indústria cosmética são o Colágeno tipo I, Colágeno tipo II e Colágeno tipo III, que formam as fibrilas estruturais dos tecidos. O Colágeno tipo I é a base para produção de muitos ingredientes cosméticos, por ser o mais biocompatível com o corpo humano. Especialmente por ser o mais comum extraído de fontes marinhas como peixes, águas vivas e esponjas marinhas, dessa forma não são fontes de transmissão de doenças como a encefalopatia espongiforme bovina (a doença da vaca louca), mais comumente chamada de BSE (bovine spongiform encephalopathy)

De modo geral, a obtenção do colágeno de partes de bovinos ainda é a mais comum. Seguido pelas partes de suínos. Por isso é importante solicitar ao seu fornecedor a declaração de origem do material e a declaração de segurança quando a BSE.

Há ainda outras fontes animais como as aves, bem como a partir do cultivo in vitro de células humanas ou de animais terrestres. A expressão da proteína por leveduras a partir de DNA recombinante e a síntese direta dos peptídeos também são alternativas viáveis, apesar de serem mais caras.

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No entanto, a maior parte da produção industrial de colágeno ainda é a partir do reaproveitamento de subprodutos animais que seriam descartados. Ao invés disso, esses tecidos com alto valor nutritivo passam por novas etapas de processamento e se tornam fontes de nutrientes para suplementação e outras aplicações.

O que é colágeno vegetal

A maior parte do colágeno disponível no mundo é de origem animal. É importante pontuar que tecnicamente não existe colágeno vegetal. O que há disponível comercialmente são hidrolisados de proteína vegetal e misturas de peptídeos com composição similar ao hidrolisado de colágeno. Mas essa mistura não pode ser tecnicamente chamada de colágeno. No entanto, o mercado cosmético criou o termo “colágeno vegetal”.

Então o tal colágeno vegetal não é colágeno. Possui composição e propriedades similares, mas não é colágeno. Seria o mesmo que preparar um molho para macarrão a base de melancia e chamá-lo de molho de tomate. O sabor pode ser idêntico, o aspecto do macarrão ao sugo pode ser idêntico, mas o seu macarrão não contém molho de tomate.

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O colágeno vegetal é uma mistura de peptídeos e aminoácidos obtidos de plantas ou algas que tem composição similar ao colágeno animal.

Tendências em tratamentos e suplemento com colágeno

Nos últimos anos, a suplementação oral de colágeno vem se tornando cada vez mais popular. Os produtos prometem aos consumidores ações antienvelhecimento; aumento da hidratação, elasticidade e firmeza da pele; redução de rugas e rejuvenescimento da pele. Há melhora do aspecto da pele com o uso prolongado de suplementos de colágeno em tratamentos de pelo menos 12 semanas (3 meses), mas após cerca de 4 semanas após a interrupção da suplementação oral, toda a melhora é perdida.

Em 2016, o mercado global de colágeno chegou a US$ 3 bilhões e é esperado crescimento para US$ 6,63 bilhões até 2025. A principal razão para o crescimento é o aumento de demanda em cosméticos e suplementos devido ao aumento populacional. Mas é bem provável que nos próximos anos, começaremos a ver no mercado bebidas enriquecidas com colágeno hidrolisado, bem como outros alimentos processados.

O que é colágeno verisol?

O colágeno verisol é um hidrolisado de colágeno para uso oral como suplemento que promete maior firmeza e suavidade na pele, além de reduzir celulite e auxiliar no crescimento das unhas. Há artigos publicados que alegam os benefícios citados com a ingestão frequente do colágeno verisol.

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Os peptídeos bioativos de colágenos (comercialmente chamado de colágeno verisol) são obtidos pela degradação de colágeno tipo I suíno pela empresa alemã Gelita. Os peptídeos possuem peso molecular médio de 2 kD e devem ser dissolvidos preferencialmente em água antes de serem ingeridos.

Peptídeos bioativos são frações de hidrolisados de proteínas que possuem ação biológica quando administradas por via oral ou tópica. Toda proteína quando é hidrolisada gera peptídeos e aminoácidos. Alguns desses peptídeos (geralmente os de tamanho médio de moléculas) são capazes de exercer ações biológicas.

De acordo com um estudo duplo-cego realizado com 69 mulheres de 35 a 55 anos publicado em 2013, uma dose diária de 2,5g de colágeno verisol durante 4 semanas seria capaz de promover aumento da elasticidade da pele versus placebo. Após interromper o tratamento, a melhoria observada na pele seria perceptível ainda por mais 4 semanas.

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Um segundo estudo com 114 mulheres com idade entre 45 e 65 anos, demonstrou que uma dose diária de 2,5g de colágeno verisol durante 4 semanas reduziu rugas e aumentou a concentração de pró-colágeno na pele.

Em outro estudo duplo-cego com 105 mulheres de 25 a 50 anos, a ingestão diária de 2,5g de colágeno verisol durante 6 meses demonstrou redução no grau de celulite e na ondulação na pele, com os primeiros resultados visíveis após 3 meses de tratamento.

O colágeno verisol deve ser diluído em água antes de ser ingerido.

Outra pesquisa realizada teve duração de 6 meses durante os quais as 25 mulheres ingeriram uma dose diária de 2,5g de colágeno verisol durante 24 semanas, seguido de um período de 4 semanas de observação após interrupção do tratamento. Nesse estudo foi observada melhora no aspecto das unhas que ficaram menos quebradiças. Após 12 semanas, foi observado aumento de 10% na taxa de crescimento das unhas. Mais de 70% das voluntárias relataram que suas unhas cresceram mais rapidamente e ficaram mais longas.

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Afinal, tomar colágeno verisol funciona de verdade?

Como já foi pontuado também no outro artigo aqui do Cosmética em Foco, a ingestão de colágeno vai aumentar a disponibilidade de peptídeos e aminoácidos para todos os tecidos, não necessariamente na pele e unhas (onde todos querem melhorar o aspecto com a suplementação oral de colágeno). Maior oferta de nutrientes vai promover uma melhor formação de colágeno e outras proteínas no organismo, mas ainda não é uma relação direta.

Os estudos apontam sim resultados positivos, mas todos compararam o uso do colágeno verisol versus placebo. Nenhum deles compara a ingestão de colágeno verisol versus a ingestão outros suplementos ricos em proteínas e peptídeos ou ao consumo diário de dose similar de gelatina. Além disso, o que é evidente em todos os estudos publicados sobre tratamentos com colágeno verisol é o tempo do tratamento que variou de 1 mês a 6 meses. Ou seja, os benefícios não são imediatos. Também não são benefícios duradouros, após interromper a ingestão diária de colágeno verisol a pele e as unhas voltarão ao estado natural anterior ao tratamento.

Qual o melhor colágeno verisol?

Após toda a explicação acima, você ainda deve se perguntar qual o melhor colágeno verisol do mercado? Qual marca comprar? A resposta é bem simples. Colágeno Verisol é marca registrada da empresa Gelita, então se a marca declara abertamente que contém colágeno verisol, então tem a mesma procedência.

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Como vimos nos dados dos estudos clínicos apresentados, a dose ideal de colágeno verisol é 2,5g por dia. Sendo assim, a marca que recomendar essa posologia também é indicada.

Você pode encontrar marcas de suplementos com colágeno verisol vendidos em caixas com sachês ou cápsulas com pesos e tamanhos diferentes, mas o mais importante é que a dosagem diária mínima deve ser 2,5g de peptídeos bioativos de colágeno. Na dúvida, converse com seu médico, farmacêutico ou nutricionista e tire todas as dúvidas.

Referências:

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PROKSCH, E.; SCHUNCK, M.; ZAGUE, V.; SEGGER, D.; DEGWERT, J.; OESSER, S. Oral Intake of Specific Bioactive Collagen Peptides Reduces Skin Wrinkles and Increases Dermal Matrix Synthesis. Skin Pharmacol Physiol, 2014, v.27, pp.113-119.

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SCHUNCK, M.; ZAGUE, V.; OESSER, S.; PROKSCH, E. Dietary Supplementation with Specific Collagen Peptides Has a Body Mass Index-Dependent Beneficial Effect on Cellulite Morphology. J Med Food, v.18, n.12, 2015, pp.1340–1348.

Verisol® A verdadeira beleza vem de dentro. Material de divulgação do fornecedor Gelita. 2018.

Por Gustavo Boaventura

Criador e Diretor de Conteúdo. Farmacêutico Industrial pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Especialista em Pesquisa & Desenvolvimento de Produtos Cosméticos. Mestre em Comunicação pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) com foco no consumo de cosméticos masculinos. Bacharel em Administração pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas). Experiência em Pesquisa & Desenvolvimento de produtos capilares. É o idealizador e criador do Cosmética em Foco e escreve desde 2007.