O aviso silencioso das unhas

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Quantos são os sinais que o corpo nos dá e que nós ignoramos, não é mesmo?  Se não parecer grave, aí é que não damos bola mesmo! É isso o que infelizmente acontece com os sinais que aparecem em nossas unhas.

Constantemente exposta, a unha é responsável pela proteção preventiva das pontas dos dedos. Assim sendo, é de fundamental importância que estejam saudáveis e bem cuidadas, uma vez que advogam sobre questões de higiene pessoal da pessoa para com seu próprio corpo.

Há tempos os salões que oferecem serviços como manicure e pedicure eram frequentados apenas por mulheres. Com a popularização do homem como consumidor de cosméticos, sua presença em lugares como esses tem se tornado menos estranha aos olhos dos demais e, assim, mais frequente.

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Quer os cuidados com as unhas sejam realizados em salões, spas ou mesmo em casa, os riscos estão lá! Os termos são bastante técnicos, mas o que acontece todos nós (na prática) sabemos. Vamos repensar um pouquinho sobre os sinais que (eventualmente) o corpo já nos enviou e nós não demos a devida atenção?

Problemas mais comuns nas unhas

Descoloração das unhas: é uma das consequências mais comuns do uso de esmaltes. Ela acontece devido às manchas (inofensivas) de queratina presente no esmalte. Teoricamente pode aparecer como resultado da aplicação de qualquer cor de esmalte, contudo geralmente acontece após uso de esmaltes que contenham tonalidades vermelhas ou amarelas. Após a remoção do esmalte, o fenômeno desaparece em aproximadamente duas semanas sem qualquer tratamento. Pessoas que já passaram por isso, sabem que o uso de base antes da aplicação do esmalte pode ajudar a impedir que o fenômeno aconteça, contudo nem sempre a descoloração pode ser evitada.

Figura 1: exemplo de descoloração.
Fonte: Divulgação.

Onicólise traumática: é quando ocorre a separação da unha de partes do dedo onde ela está fixada. Sabe-se que os pacientes inserem uma variedade de objetos finos e afiados no espaço então existente a fim de higienizá-lo. Seu diagnóstico é sugerido quando os pacientes apresentam “unhas em montanha-russa” (Figura 2). A onicólise traumática é freqüentemente associada à paroníquia crônica. Tais infecções ocorrem como a remoção da cutícula e consequente quebra da barreira essencial à penetração de microrganismos. É válido ressaltar que a onicólise traumática é muito comum em pessoas que fazem uso de unhas acrílicas, já que costumam usar unhas muito compridas, e a adesão desta unha acrílica à unha propriamente dita muitas vezes é mais forte que a adesão da unha de verdade às partes do dedo onde ela está fixada.

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Figura 2: exemplo de onicólise traumática.
Fonte: Color atlas and synopsis of clinical dermatology.

Degranulação da queratina: é resultado dos processos de aplicação e remoção do esmalte. As características são estrias brancas, máculas e remendos. Estas áreas brancas correspondem às áreas de esfoliação das unhas. Ainda não está claro se a degranulação difere em relação ao tipo de esmalte utilizado. Contudo, uma certeza nós temos: esmaltes de longa duração podem causar maior trauma à unha.

Figura 3: exemplo de degranulação da queratina.
Fonte: artigo citado nas referências.

Infecções por micobatérias: podem acontecer em escalda-pés. Embora esta prática seja muito frequente, pode trazer fragmentos de pele que, sem a devida higienização e esterilização, servem como substrato para o crescimento de micobactérias.  Após duas ou mais semanas, é possível que apareçam máculas eritematosas e pápulas nas pernas. As lesões podem evoluir para abcessos que culminam em despigmentação e cicatrizes.

Figura 4: exemplo de micose nas unhas (onicomicose).
Fonte: Color atlas and synopsis of clinical dermatology.

O que são as unhas artificiais

É possível que você esteja imaginando: se uma pessoa com unhas aparentemente saudáveis pode apresentar todos esses distúrbios, e aquelas que fazem uso de unhas artificiais?

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Pois vamos a elas!

As unhas acrílicas são um tipo artificial de reforço às unhas criado a partir de uma mistura de acrilatos líquidos e em pó. Já as unhas em gel são compostas por uma mistura de monômeros de acrilato que requerem luz ultravioleta (UV) para polimerização e endurecimento. É possível utilizar LED: o tempo de exposição necessário é menor, contudo o custo é maior.

As unhas em gel existem desde o início dos anos 2000, mas só conseguiram destaque em 2010, após campanha de marketing de CND® (Creative Nail Design, Inc.) para os esmaltes Shellac. A marca OPI, Inc., seguiu o exemplo em 2011 com seu lançamento de GelColor. Nos últimos seis anos, elas ganharam popularidade significativa devido ao seu brilho e à sua resistência a lascar, arranhar e quebrar.

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Conheça os riscos potenciais aos quais estas unhas artificiais expõem a pessoa que as utiliza?

Neuropatia periférica: é uma complicação rara oriunda do metacrilato de unhas acrílicas. Seu mecanismo de toxicidade ainda é desconhecido, contudo pode estar associado com neuropatia local induzida por metilmetacrilato.

Afinamento das unhas: é um fenômeno geralmente observado em pessoas que fazem uso de unhas acrílicas, uma vez que a remoção destas geralmente envolve abrasão mecânica. Clinicamente, as unhas revelam afinamento com formato de triângulo ou meia lua. A parte da unha que perdeu camadas aparece mais avermelhada que o restante, uma vez que está mais fina que as demais partes. Estrias lineares podem ser vistas ocasionalmente, indicando exatamente onde houve o afinamento.

Figura 5: exemplo de afinamento das unhas.
Fonte: artigo citado nas referências.

Unhas pseudo-psoriáticas: é reportada em pessoas que fazem uso de unhas acrílicas. As características clínicas, incluindo onicólise e hiperqueratose subungueal grave, são muitas vezes bastante semelhantes às unhas psoriáticas (Figura 6). Na verdade, os casos têm sido diagnosticados de forma inadequada e consequentemente não são tratados da forma como deveriam, mas sim com corticosteróides ou mesmo com imunossupressores. Algumas pessoas desenvolveram unhas pseudo-psoriáticas antes da retirada das unhas acrílicas, o que sugere que a sensibilização ao acrilato seja capaz de causar este fenômeno, e não o processo de retirada em si.

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Figura 6: exemplo de unhas pseudo-psoriáticas.
Fonte: artigo citado nas referências.

Dermatite de contato: observou-se número elevado de casos de dermatite de contato associada ao monômero de acrilato com o aumento da utilização de unhas de gel que necessitam de exposição à luz.  Os casos geralmente incluem dermatite eczematosa periungueal, mas existem relatos de lesões eczematosas nas mãos e até na face.

Muito embora se divulgue que unhas em gel sejam fáceis de remover, elas são firmemente aderidas. Como acabamos de ver, o processo de remoção pode estar associado ao afinamento generalizado das unhas, fraqueza, fragilidade, pseudoleuconíquia e onicocchicila lamelar (Figura 7). Embora seja uma preocupação bastante disseminada que as unhas acrílicas bloqueiem a transferência de oxigênio através das unhas e, assim, atrapalhem a oxigenação, é importante dizer que não existem evidências na literatura médica publicada para apoiar esta afirmação.

Figura 7: exemplo de afinamento de unhas após retirada de unhas acrílicas.
Fonte: artigo citado nas referências.

Sobre a exposição à radiação UV, concluiu-se que o risco de se desenvolver um carcinoma é muito baixo e que seriam necessárias dezenas ou centenas de milhares de mulheres utilizando uma lâmpada UV regularmente, a fim de desenvolver um único carcinoma no dorso das mãos.

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Já a questão do papel da luz nos olhos é menos clara. A exposição cumulativa à luz UV é uma causa conhecida de catarata e pode estar envolvida na patogênese da degeneração macular. Embora a quantidade de incidência de radiação UV das lâmpadas de salão seja pequena, a quantidade de UV varia de máquina para máquina e depende do posicionamento sob a lâmpada. Não se consegue mensurar a quantidade de luz que atinge os olhos. Desta forma é recomendado o uso de óculos de proteção e alguns especialistas recomendam também o uso de luvas para proteger o dorso das mãos.

De tudo, ficam algumas dicas importantes para que o cuidado com as unhas não traga malefícios:

  1. Evite escalda-pés, a menos que tenham sistema de filtragem que faça uso de água sanitária.
  2. Leve seus próprios instrumentos, ou certifique-se de que os instrumentos utilizados foram esterilizados por autoclave.
  3. Evite raspar/depilar as pernas 24 horas antes de ir à pedicure.
  4. Não deixe que apararem ou manipulem cutículas (sim, este tópico é bastante controverso).
  5. Não deixe que utilizem instrumentos para fazer a limpeza sob as unhas.
  6. Limite a frequência e o tempo de exposição à radiação UV. Pergunte sobre o tipo de luz utilizada e escolha luzes LED quando possível. Além disso, considere o uso de óculos e luvas de proteção caso se submeta a tratamentos frequentes.

Dados os devidos cuidados, é possível fazer uso de tratamentos e cuidados com as unhas com frequência e ainda assim manter a saúde do corpo em geral. Em caso de dúvida, procure um dermatologista.

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Referência:
RIEDER, EVAN A.; TOSTI, ANTONELLA. Cosmetically Induced Disorders of the Nail with Update on Contemporary Nail Manicures. Journal of Clinical & Aesthetic Dermatology, v. 9, n. 4, 2016.
Fitzpatrick, T. B.; JOHNSON, R. A.; WOLFF, K. W.; POLANO, M. K.; SUURMOND, D. Color atlas and synopsis of clinical dermatology. McGraw-Hill: 1997.

Por Gisely Spósito

Redatora. Farmacêutica-Bioquímica, Mestre em Ciências Farmacêuticas e Doutora em Ciências Farmacêuticas, especificamente em Medicamentos e Cosméticos pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP-USP). Tem experiência em Tecnologia de Cosméticos, do desenvolvimento à análise sensorial.