Se tornou comentário geral nas redes sociais nos últimos dias com as pessoas se perguntando “por que o álcool gel está melequento”? O termo correto seria pegajoso, mas melequento também se aplica. Aliás vários foram os apelidos que ouvi nos últimos meses para os álcoois gel alternativos, mas vamos às respostas.
Por que o álcool gel está melequento?
O excesso de glicerina (Glycerin) pode deixar o produto pegajoso, com sensação melequenta, mas não é esse o principal motivo da reclamação dos brasileiros em 2020. A resposta está nos próximos parágrafos.
A partir de março, com a oficialização da pandemia no Brasil, as pessoas correram às farmácias e supermercados para comprar álcool gel e se protegerem do coronavírus (depois de quase um ano, não precisamos mais chamá-lo de novo coronavírus, não é mesmo?). Com isso a demanda aumentou exageradamente, ocasionando a escassez de uma das principais matérias-primas responsáveis pela produção de gel: o carbômero, popularmente conhecido como Carbopol. Na verdade toda a classe de espessantes acrílicos ficou em falta no mercado mundialmente! Isso aconteceu em 2009 na pandemia da gripe H1N1.
A diferença dessa vez foi que a Anvisa permitiu a comercialização de álcool gel com matérias-primas similares em situação extraordinária com a publicação da Resolução RDC 350/2020. Essa resolução possibilitou às empresas o preparo e comercialização de fórmulas oficinais do Formulário Nacional sem a necessidade de registro durante 180 dias. Por sinal, esse prazo termina em 19 de setembro de 2020 e os produtos comercializados nesse caráter de exceção devem ter prazo de validade de 180 dias.
É nesse momento que entrou o álcool gel pegajoso, ou o álcool gel melequento. Como já descrevi com detalhes em outro artigo sobre como fazer álcool gel, esse tipo de produto é composto basicamente por 3 ingredientes: álcool, água e espessante. O aspecto consistente e a aparência límpida do álcool gel a qual estamos acostumados é dada pelos espessantes acrílicos, como o Carbopol. Na falta deles, muitas empresas recorreram a espessantes naturais como os derivados de celulose. O mais utilizado foi a hidroxipropil metilcelulose (Hydroxypropyl Methylcellulose), pois não é qualquer espessante natural que é capaz de espessar mistura de álcool e água. A queridinha goma xantana (Xanthan Gum), por exemplo, não é capaz de manter o aspecto gel de misturas hidroalcoólicas.
Uma característica principal desses geis de celulose é a pegajosidade e o aspecto levemente turvo. Logo, se o gel que você tem não é límpido pode ser um gel de celulose. É importante destacar também que a viscosidade, ou seja, a consistência também é mais fluida. Esses produtos alternativos escorrem muito mais facilmente que um gel.
O álcool gel melequento é eficaz contra coronavirus?
Independente do espessante utilizado, se o álcool gel foi preparado na proporção correta de álcool e água, ele será eficaz contra microrganismos, inclusive o vírus SARS-Cov-2. O responsável pela ação antisséptica do álcool gel, adivinha!, é o álcool e não o Carbopol. Então não há motivo para preocupação.
Nesse ano, as vigilâncias sanitárias locais estão fiscalizando os estabelecimentos que preparam álcool gel e tomando as ações cabíveis no caso de infrações. É assim que deve ser!
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