Você já pensou sobre os desafios que o setor cosmético vai enfrentar daqui algumas décadas? Sim ou não, talvez este podcast lhe traga alguns insights.
Planejamento é um tópico difícil de discutir, seja no campo pessoal ou profissional, no curto e especialmente no longo prazo (relembre algumas dicas aqui!). No entanto, pensar sobre o nosso futuro no longo prazo pode ter um efeito positivo sobre as nossas atitudes hoje. Afinal, somente quando temos clareza de quem queremos ser lá na frente, é que tomamos decisões mais conscientes. Pensando nisso, o Cosmética em Foco propõe a vocês que mergulhem neste cenário prospectivo narrado no nosso novo podcast:
Texto completo do áudio
Estamos no ano 2052 e algumas coisas mudaram drasticamente desde que a Exy Beauty foi criada. Esta empresa atua no segmento de produtos para o banho e outros cuidados com a pele há mais de 40 anos. Marta Silvana é gerente de soluções científicas nesta empresa e no dia de hoje ela vai passar por uma grande auditoria: uma reunião com os acionistas para apresentar resultados preliminares de uma pesquisa, em torno da qual há muitas expectativas. O modo como os produtos da Exy Beauty são concebidos precisava mudar, mas como em toda mudança, a tensão e a ansiedade imperavam na empresa.
Enquanto se prepara para iniciar os trabalhos do dia em seu home office, Marta Silvana assiste ao jornal da manhã, que aborda um assunto que afeta não só ela e seu trabalho, mas também diversas pessoas e negócios por todo o mundo. A matéria fala sobre a escassez de água doce potável. Por volta de 2030, metade da população mundial já não dispunha mais de abastecimento de água doce potável, confirmando as previsões da Organização das Nações Unidas (ONU) no começo do milênio. O problema é que 22 anos depois, a escassez de água chegara a um patamar de risco capaz de provocar sérios confrontos de soberania entre os países.
Marta Silvana parou por alguns segundos para prestar atenção na transmissão. O jornalista falava que, conforme previsto pela ONU, já em 2031 as reservas de água doce e potável haviam sido reduzidas pela metade, e que no panorama atual todas as reservas no mundo somavam apenas 12% do que contávamos em 2010. Um dos entrevistados lamentava que apesar dos esforços tomados pelos Governos e Setor Privado, os quais permitiram manter um índice de 40% das reservas de água potável até 2045, uma sequência de catástrofes naturais e acidentes ambientais frutos da negligência humana rapidamente condenaram as reservas atuais aos insuficientes 12%. Em sete anos, perdeu-se mais água que em quase meio século.
A sobrevivência civilizada das nações fora possível até agora graças aos avançados processos de dessalinização da água do mar, que permitiam aos habitantes do planeta utilizar água para necessidades essenciais como beber, cultivar alimentos, cozinhar e se higienizar. No entanto, centenas de milhões de vidas foram perdidas até que tais processos pudessem ser implementados em escala global. O custo dessa tecnologia ainda é muito alto para alguns países, e o ambiente econômico agora tem uma nova moeda de troca: ou o seu país ainda tem alguma reserva natural de água doce potável ou ele produz e exporta a tecnologia de dessalinização. Os países que não se enquadram nesses grupos ou foram evadidos, ou estão em estado de calamidade.
Este assunto chamou a atenção de Marta Silvana pois era exatamente este fato que lhe perturbava a rotina. Com a escassez de água doce potável, o uso de água para fins industriais fora intensamente restringido. A água era agora o bem mais precioso e não poderia ser desperdiçada para beneficiar uma pequena parcela da população. Mesmo os consumidores mais abonados, nos países mais favorecidos, não se sentiam à vontade para consumir produtos a base de água enquanto a maioria das pessoas estava sedenta. De fato, nos anos mais recentes, mesmo o uso de água dessalinizada para a fabricação de cosméticos deixara de ser visto com bom olhos! Afinal, se perdemos a segurança da água doce, um dia poderíamos perder também o consolo da água salgada. Assim como se clamou uma vez pelo fim dos testes em animais, o mote das vozes agora era “0% água”.
No entanto, o mercado para os produtos cosméticos estava lá, pois banhar-se era mais essencial do que antes. Poucos podiam se dar ao luxo de ficar doentes em meio à escassez de água. A boa higiene era a melhor maneira de prevenção, em um mundo onde as doenças infecciosas estavam entre as dez principais causas de morte.
O desafio para Marta Silvana se resumia na seguinte pergunta: “Como uma empresa cujos produtos têm mais de 90% de água na sua composição poderia garantir a sua sobrevivência nesta nova dinâmica?”. E com essa pergunta, logo surgiam outras: “Como formular sem água, mantendo a concentração segura dos ingredientes”?, “Como limpar sem água?”, “Ou com menos água?”. Perguntas que acompanhavam nossa heroína a cada suspiro…
De imediato, alguns concorrentes da Exy Beauty lançaram as chamadas “fórmulas concentradas” ou “fórmulas secas”. Bem recebidas pelo público no primeiro momento, em pouco tempo essas fórmulas se revelaram como uma medida paliativa, uma forma de “tapar o sol com a peneira”. Ainda que não contivessem água em sua composição, essas fórmulas precisavam ser diluídas antes do uso para que não fossem agressivas à pele. A imagem dessas empresas ficou bastante abalada quando se tornou claro que tentaram livrar-se da responsabilidade simplesmente passando-a adiante.
Mas Marta Silvana estava relativamente tranquila. Os últimos dez anos de pesquisa na busca por uma solução lhe deram confiança e alguma segurança de que estavam muito próximos de encontrar as respostas mais viáveis. Desde 2030, a Exy Beauty havia vislumbrado um cenário de escassez total de água, de modo que passou a investir em pesquisas que lhes fornecessem alternativas mais sustentáveis. Como consequência, a empresa agora dispunha de um leque de opções estratégicas para debater e estava à frente de seus concorrentes, que ainda ensaiavam caminhos que a Exy Beauty já havia descartado.
Este texto é um cenário fictício e sua elaboração não foi baseada nos procedimentos metodológicos recomendados pela literatura de cenários prospectivos. A redação foi criada com base em previsões da ONU quanto à disponibilidade de água no mundo1. Se você está interessado(a) em desenvolver cenários aplicados ao contexto de sua empresa, a equipe do CeF pode lhe ajudar. Entre em contato conosco.