A Advertising Standards Authority no Reino Unido (o CONAR de lá) instruiu os influenciadores digitais britânicos a não fazer mais uso de filtros em anúncios no Instagram quando publicarem anúncios de cosméticos e produtos de cuidados com a pele. Influenciadoras divulgando maquiagem, por exemplo, não poderiam usar um filtro que alterasse a tonalidade ou a textura do produto anunciado. Espera-se que os influenciadores, marcas e celebridades do Reino Unido sigam as novas regras.
A decisão no Reino Unido veio após a campanha #filterdrop da maquiadora e modelo Sasha Pallari (@sashalouisepallari), que pedia para os influenciadores dizerem se estão usando filtro ao promover produtos de beleza. “Acho que qualquer pessoa online tem o direito de fazer o que quiser e postar o que quiser, porém, lucrar com o público e alterar o desempenho de um produto por meio de um filtro / edição precisava ser monitorado”, diz Sasha. A nós resta a dúvida: promover um benefício falso de um produto com o uso de filtros e edições vai gerar a recompra do produto? Será que o cliente vai gostar do produto e comprar novamente quando acabar ou vai ficar frustrado? Porque os filtros do Instagram estão acessíveis a todos os usuários do aplicativo sem a necessidade de gastar R$ 100,00 em um creme antirrugas, por exemplo.
Sasha escreveu no Instagram: “Seis meses atrás, conversei com a ASA sobre os danos desses filtros, pois senti que era necessário haver diretrizes mais rígidas sobre como os produtos e cosméticos eram anunciados online. Parecia que eu estava prendendo a respiração cada vez que o caso era atualizado e levado a um estágio adiante. Em 22/01/2021 recebi um e‑mail informando que ‘o resultado das decisões escolhidas significa que agora é aconselhado que marcas / influenciadores / celebridades não devem aplicar filtros em fotos que promovam produtos de beleza, caso tais filtros possam exagerar o efeito o qual produto é capaz de atingir, mesmo que o nome do filtro seja referenciado no story do Instagram’.”
Para tomar uma decisão, a ASA analisou dois anúncios no Instagram de influenciadores que estavam vendendo produtos de bronzeamento em vídeos nos stories do Instagram. A ASA decidiu que os anúncios de ambos os produtos de bronzeamento provavelmente induziriam os clientes ao erro, porque os filtros distorciam o verdadeiro efeito que os produtos podem alcançar.
Os influenciadores do Reino Unido ainda poderão usar filtros, mas se eles estiverem anunciando cosméticos, eles precisarão escolher um filtro que não distorça ou exagere o efeito do produto. Quem infringir a nova regra terá seu anúncio retirado e proibido. Isso pode impactar negativamente a reputação de um influenciador.
O uso de filtros em anúncios no Instagram também deveria ser proibido no Brasil?
Atualmente, a briga maior no Instagram e outras redes é que os influenciadores identifiquem claramente os anúncios no feed ou nos stories. Há muitas postagens que se passam por mera opinião da influenciadora, quando na verdade é um publieditorial. E o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (CONAR) já regulamenta esse tipo de ação…
Tal como no Reino Unido, aqui em terras tupiniquins também temos uma personalidade presente no Instagram dedicada a pressionar marcas e influenciadores para que os direitos e deveres sejam devidamente cumpridos. Eu me refiro à farmacêutica Priscilla Rezende, também conhecida como @desin.fluencer. Ela também já teve outros pseudônimos e vem jogando luz sobre as mentiras das blogueiras há muitos anos como Titia Shame e Blogueira Shame.
Para Priscilla, pelo menos 90% dos influenciadores no Brasil usam filtros ou outros artifícios ao postar anúncios de cosméticos no Instagram: “Usam filtro até para fazer publi de batom, o que modifica a cor do produto. Usam filtro no antes/depois de produtos faciais clareadores, fazem vídeos com um mega filtro perguntando ‘oi, meninas! Tutupom? O que estão achando da minha pele depois de usar o óleo de peroba na nova versão creme?’ Não dá para ver a pele, imagina o resultado de um tratamento.”
“A grande maioria ainda acredita que os posts são voluntários, verdadeiros e nem sabe que a identificação de conteúdo publicitário é obrigatória”, afirma Priscilla. Ou seja, para os brasileiros não é claro quando uma publicação no feed ou story é um anúncio ou não. Esso é uma falha grave de publicidade e o CONAR deveria pressionar por mais transparência. Quando vemos um artista na TV falando sobre os benefícios de um produto em um comercial de 30 segundos, todos temos certeza de que se trata de um anúncio! E ninguém critica o artista por receber dinheiro para promover aquele produto. Por que seria diferente no ambiente digital? Qual o receio de marcar os posts como anúncios ou publieditoriais se eles realmente o são?
Em seu perfil, Priscilla orienta os usuários, pessoas comuns, sobre o que fazer quando uma influenciadora ou uma marca usa filtro para mascarar benefícios ou mesmo quando uma publicação não é identificada como anúncio: “as pessoas devem denunciar como propaganda enganosa e ir até o perfil da marca reclamar porque as influenzas não dão a mínima para esse tipo de comentário”. Muitas vezes bloqueiam quem faz esse tipo de comentário e a vida segue normalmente. O termo influenza é utilizado para referir pejorativamente às influenciadoras que desrespeitam seus seguidores ao promover produtos com resultados falsos e realidades muitas vezes mentirosas, como certa vez uma delas gravou story dizendo que preparava a comida da semana, mexendo a colher em uma panela vazia e com o fogão desligado.
Como a Desinfluencer vem dizendo ultimamente: “o golpe está aí, cai quem quer”. E você? Sabe reconhecer quando um post é anúncio ou não? Sabe o que fazer para denunciar ao CONAR uma prática abusiva? Assim como aconteceu no Reino Unido, será que o CONAR deveria fazer o mesmo no Brasil e proibir o uso de filtros para a divulgação de cosméticos?
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